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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

NO CENTRO DE UM PALÁCIO VAZIO 'ABRE A BOCA JOÃO DIAS'

Mino Pedrosa


O dia 24 de agosto de 2011 marcou a vida do soldado João Dias Ferreira e selou o destino do governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz. A Revista Eletrônica Quidnovi, em primeira mão, trouxe à cena o soldado quatro estrelas da PM no episódio que ficou conhecido como Sudoeste Caboclo. Foi um roteiro de cinema que a população brasileira duvidou que pudesse acontecer na capital do país. 

Hoje, 7 de dezembro de 2011, passados três meses e meio do primeiro episódio, aconteceu o segundo capítulo de uma história inacreditável, com a participação do mesmo personagem. Foi na garagem do Palácio do Governo, que o soldado 4 estrelas João Dias, chegou com uma mala com R$ 200 mil, para devolver o “cala boca” ao Secretário de Governo, Paulo Tadeu. João circulou livremente pelo Buriti com camiseta branca e calça jeans, barbado, mas com a desenvoltura de um freqüentador assíduo que nem sequer precisa passar pelo detector de metais presente em todas as repartições públicas de Brasília. O detalhe da mala grande e pesada, com R$ 200 mil, parecia aos olhos de quem trabalha no Palácio do Governo, fato corriqueiro. Só não contavam com o estado emocional alterado do PM.
 
João caminhou tranquilamente até o Gabinete do Secretário de Governo do Distrito Federal, no primeiro andar do Palácio do Buriti, chegou a ante sala e anunciou às secretárias que queria falar com Paulo Tadeu. Que já tinha um encontro marcado. Informado de que o secretário não iria recebê-lo naquele momento, João começou a se irritar, mais do que já aparentava estar. O soldado começou a fazer revelações bombásticas que justificavam a presença dele no Gabinete de Paulo Tadeu:
 
 - Vim devolver esta merda de propina!Vou enfiar este dinheiro todo goela abaixo do Paulo Tadeu, esbravejava o PM. “Tenho tudo gravado. Vou acabar com a vida deste governador de merda! Vou destruir este Governo!”
 
Em  seguida, aos berros, abriu a mala e começou a espalhar os R$ 200 mil pela Secretaria de Governo, pasta mais importante do GDF, responsável pelas nomeações dos cargos públicos. Ao mesmo  tempo em que espalhava o dinheiro, João jogou uma parte em cima da sub-secretária de Governo, Paula Batista de Araújo.
 
Toda a movimentação de João Dias no Palácio do Governo foi documentada pelas câmeras de segurança do Buriti. Como o roteiro de um filme, tudo, nesse escândalo,  é gravado por equipamentos portáteis ou de segurança, por vários “cinegrafistas” cada vez menos amadores.
 
As secretárias ficaram atônitas e chamaram a segurança. Um sargento da PM , lotado na Casa Militar, tentou conter João Dias, e teve o dedo quebrado pelo lutador de kung-fu. Confusão armada no Palácio, ninguém conseguia segurar o soldado 4 estrelas, que acabou  preso e levado para a 5ª DP.
 
A princípio, por causa da jurisdição, João deveria ter sido levado para a 2ª DP. Mas para evitar o assédio da imprensa, acabou conduzido para a 5ª DP, localizada no Setor Bancário Norte,  um local mais discreto. Só que a estratégia não deu certo. Em pouco tempo a Delegacia estava cercada de repórteres. 
 
- Ele nos agrediu, jogou dinheiro na nossa cara. Ele é um louco! Deveria estar preso mesmo!”, disse Paula Araújo ao sair de depoimento na 5ª Delegacia de Polícia. 
 
O advogado de João, André Cardoso, já estava de sobreaviso e chegou rapidamente a Delegacia . Cardoso explicou que o soldado 4 estrelas estava entregando naquele momento uma gravação feita pelo celular, onde representantes do Governo teriam pago, na véspera,  os R$ 200 mil espalhados no Buriti, como parte de um “cala boca”  para João Dias.
 
João prestou depoimento, de conteúdo bombástico, cercado de pessoas do Governo que, preocupadas, movimentavam a 5ª DP, na expectativa de desvendar o que o PM poderia revelar. O delegado escalado para atender o caso, enquadrou João somente por injúria, não levando em conta as agressões feitas às secretárias e nem entrou no mérito da propina que João Dias foi devolver ao Secretário Paulo Tadeu.  Um detalhe: dos R$ 200 mil espalhados no Palácio do Governo só chegaram a delegacia R$ 159 mil. Mesmo assim, o Delegado não quis entrar no mérito da corrupção envolvendo o Governador Agnelo, o vice Tadeu Filipelli e o secretário de Governo Paulo Tadeu.
 
João pagou uma fiança de R$ 2 mil e foi levado para Corregedoria da PM onde irá responder pela agressão ao colega de corporação, que teve o dedo quebrado na confusão do Palácio do Buriti.
 
Agora o soldado 4 estrelas convocou para esta quinta-feira, 8 de dezembro, toda a imprensa , quando pretende esclarecer toda a corrupção envolvendo os poderosos do Governo do Distrito Federal.
 
No Sudoeste Caboclo, o Delegado responsável pela ocorrência, que não foi registrada, chegou ao cargo de Diretor Geral da Polícia Civil, Onofre de Moraes .  A pergunta é: onde poderá chegar  o Delegado da 5ª DP que também fez vista grossa na ocorrência de hoje, envolvendo seus chefes: o governador Agnelo, o vice Filipelli e o secretário Paulo Tadeu?
 
O mais interessante nisso tudo, é que a queda do ex-governador José Roberto Arruda aconteceu por um fato exatamente igual ao ocorrido hoje. Arruda só foi enquadrado por tentar comprar o silêncio de Edson Sombra num acordo para que o jornalista mudasse os depoimentos de Durval Barbosa. Edson Sombra armou o flagrante de corrupção com a ajuda da Polícia Federal.
 
Agora, a tentativa de fazer um acordo que mudaria os depoimentos de João Dias na Justiça, contra Agnelo, FIlipelli e Paulo Tadeu, ameaça acabar em nada, porque desde o Sudoeste Caboclo, os escândalos e provas aparecem, são noticiados, filmados, mas não são utilizados pela Polícia.
 
Toda a tecnologia de arapongagem usada nas negociatas de corrupção neste caso, já rende mais do que um longa-metragem de não ficção sobre o Governo de Agnelo Queiroz à frente do Buriti. Em menos de um ano, os brasilienses assistem atônitos uma história que parece não chegar ao fim.
 
Cabe a nós, aguardarmos os próximos capítulos? O que o Quidnovi revelou em 24 de agosto passado, foi mais uma vez comprovado pelos fatos ocorridos hoje na Capital da República.
 
* Foto exclusiva Quidnovi/Liu Gomes. Flagrante na 5a DP . João Dias depõe.
 
Fonte: Quid Novi por Mino Pedrosa

Um comentário:

  1. Durval diz que Arruda foi “gestor financeiro da Codeplan” entre 2003 e 2006. Ora, somente um ingênuo poderia acreditar nessa afirmação: nesse período o governador era Joaquim Roriz, que nunca escondeu ser adversário de Arruda. Quem conhece Roriz sabe que jamais ele permitiria a qualquer outra pessoa - muito menos um adversário - gerir área tão importante como era a Codeplan. Fosse a acusação verdadeira, Roriz não teria lançado a candidatura de Abadia contra Arruda! Outra mentira, atrelada a essa, é que Jaqueline recebeu R$ 60 mil de suas mãos para trabalhar por Arruda. Como filha de Roriz, ela fazia tudo o que seu pai mandava – inclusive apoiar Abadia. Aliás, basta recorrer ao noticiário da época para confirmar que ela trabalhou, sim, pela candidatura de Abadia contra a do Arruda. De resto, é importante salientar que há duas semanas o Tribunal de Justiça do Distrito Federal decidiu, por unanimidade, que não procede a acusação de Durval de que o dinheiro que Jaqueline recebeu das mãos de Durval foi a mando de Arruda.

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