Advogado de João Dias concede entrevista para dizer que o PM devolveu R$ 200 mil por não querer participar de esquema de corrupção, mas não soube explicar por que o policial recebeu o dinheiro no domingo e só foi devolvê-lo na quarta, nem onde estão as gravações que ele alega ter feito
Naira Trindade _Brasília247 – Preso em uma cela especial na Papuda, o policial militar João Dias não pôde se explicar, como pretendia, na tarde desta quinta-feira (8), mas mandou o advogado André Cardoso falar em sua defesa. Cardoso fez questão de reforçar a versão de que o soldado devolvera R$ 200 mil por não aceitar participar do esquema de corrupção no governo do Distrito Federal.
Ele não soube detalhar, contudo, por que João Dias ficou com a maleta recheada de dinheiro de domingo até a tarde de quarta-feira (7), quando finalmente resolveu devolvê-la, invadindo o Palácio do Buriti.
As versões apresentadas pela defesa do soldado não fecham o quebra-cabeça. Depois de dizer que seu cliente havia aceitado receber o dinheiro para poder filmar a entrega de propina e, assim, denunciar os participantes do esquema, o advogado voltou atrás e confirmou a versão assinada por João Dias em depoimento na Corregedoria da Polícia Militar.
Agora, André Cardoso conta que o soldado se recusou a aceitar o dinheiro das mãos de dois funcionários do secretário de Governo, Paulo Tadeu. André Cardoso alega que não conseguiu ter uma conversa reservada com seu cliente para obter detalhes sobre o assunto.
O policial militar contou em depoimento que recebeu os funcionários de Paulo Tadeu na cozinha da casa dele, em Sobradinho, na noite de domingo. Segundo o advogado, eles levavam uma mala com os R$ 200 mil para entregar ao policial como forma de “cala-a-boca”.
Mas o policial se recusou a receber o recurso. Ao sair, os servidores, então, deixaram a valiosa maleta na garagem da mansão. Sem que o policial soubesse, os R$ 200 mil passaram a noite lá. Pela manhã, ao acordar, João Dias surpreendeu-se ao encontrá-la.
Somente 72 horas depois, o soldado que se diz inocente decidiu entrar no Palácio do Buriti para devolver a quantia. Conhecido por seu temperamento explosivo, ele entrou sem ser notado, pediu para falar com Paulo Tadeu e começou a jogar as notas para cima quando ouviu que Paulo Tadeu não queria recebê-lo (segundo o GDF, o secretário não estava no Buriti).
Ele feriu duas funcionárias e quebrou o dedo de um segurança. Por isso, acabou autuado na 5ª Delegacia de Polícia e saiu ao pagar fiança de R$ 2 mil.
A fiança não o liberou de responder pelas agressões na Corregedoria da Polícia Militar. O soldado prestou depoimento de meia noite até as 6h de hoje e, em seguida, foi levado à cela do presídio militar, na Papuda. Para ser solto, João Dias precisa que a juíza Maria Ivatônia, da auditoria militar do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, analise seu processo. Mas hoje é feriado judiciário.
O advogado André Cardoso garantiu que deve entrar com pedido de liberdade ao promotor de plantão. Cardoso considera um absurdo o policial ter sido preso duas vezes. “É uma prisão injusta e ilegal e se trata de uma medida política para tirá-lo de cena”, acredita. A prisão PM está prevista no artigo 209 do Código Penal Militar.
Sem provas
O advogado se recusou a dar detalhes sobre as provas que João Dias alega ter acerca do esquema de corrupção no governo, sob a justificativa de não querer comprometer o cliente.
As imagens do barraco no Palácio do Buriti registradas pelo próprio policial em dois aparelhos celulares serão periciadas pela polícia. Outros três celulares de funcionários que fizeram imagens do escândalo na Secretaria de Governo também serão periciados.
Outra conta que não fecha é onde foram parar os R$ 41 mil que deveriam estar na maleta. O policial garante que tinha R$ 200 mil. Os policiais conferiram R$ 159 mil. Os R$ 41 mil ainda têm paradeiro desconhecido. “A responsabilidade de investigar isso é da polícia”, diz André Cardoso.
Fonte: Brasília 247 - 08 de Dezembro de 2011 às 20:25
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