Apenas 25 dias separam as primeiras manifestações promovidas pelo movimento contra a corrução em 7 de setembro e a segunda rodada de atos de protesto programada para este 12 de outubro. Menos de quatro semanas. Tanto bastou para que quadrilheiros espalhados pelos três Poderes e por todo o país desafiassem os brasileiros honestos com a ampliação do vastíssimo acervo de bandalheiras. Três exemplos são suficientes para retratar a desenvoltura dos fora-da-lei.
Em 15 de setembro, três ministros do Superior Tribunal de Justiça decidiram que não tem validade legal a imensidão de provas colhidas ao longo da Operação Boi Barrica. Em três anos de investigações, delegados e agentes da Polícia Federal descobriram o suficiente para instalar no banco dos réus dezenas de parentes, amigos e agregados do senador José Sarney. Em poucas horas, o ministro Sebastião Reis Júnior produziu um relatório que desqualifica os resultados da operação autorizada pelo Judiciário e monitorada pelo Ministério Público. Excitados com a derrota imposta aos xerifes, os vilões resolveram dispensar-se de cautelas. No momento, até os meirinhos que já morreram sabem que Sarney manobra ostensivamente para infiltrar no STJ a desembargadora federal Assusete Dumont Reis Magalhães.
Em 23 de setembro, o Estadão reproduziu a entrevista concedida a uma emissora de rádio do interior pelo deputado estadual Roque Barbiere, do PTB paulista. Irritado com concorrentes que andam invadindo sua capitania eleitoral, Barbiere contou que há na Assembléia Legislativa um movimentadíssimo balcão de compra e venda de emendas parlamentares. De lá para cá, multiplicaram-se evidências contundentes de que o comércio de dinheiro público é ainda mais repulsivo do que sugeriu a entrevista. Como o escândalo envolve todos os partidos, o plenário uniu-se para abafá-lo. Nenhum deputado ousou romper o silêncio corporativista. O governador Geraldo Alckmin avisou que só se interessará pela apuração do caso se Barbiere entregar-lhe os nomes dos envolvidos e as quantias recebidas (talvez exija também o CIC e o RG dos acusados). Até agora, ninguém foi preso, indiciado ou processado.
Em 28 de setembro, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados absolveu o notório Valdemar Costa Neto, vulgo Boy, de todos os pecados pretéritos e presentes (os futuros ficam para as próximas sessões). O prontuário de bom tamanho informa que o chefão do PR foi um dos sócios fundadores do esquema do mensalão, aguarda julgamento no Supremo Tribunal Federal por formação de quadrilha e chefiou o bando que saqueou o Ministério dos Transportes, fora o resto. Para os colegas, Boy é um exemplo de respeito ao decoro parlamentar. Convencido de que será inocentado também pelo STF, o delinquente irrecuperável informou que, ao contrário do que fez em 2005, desta vez não vai interromper o mandato para antecipar-se à cassação. “Não renuncio nem com reza braba!”, resumiu. Amigo e discípulo de Lula, Valdemar Costa Neto fez o que o mestre recomendou no fim de setembro aos ministros corruptos: só consegue resistir no cargo quem tem “casco duro”. Tradução: só se mantém no emprego quem nega tudo ─ mesmo depois de pilhados em flagrante.
Os três exemplos comprovam que o Executivo, o Judiciário e o Legislativo estão contaminados pela ladroagem endêmica e impune que o fundador do Brasil Maravilha transformou em instrumento político. Cabe ao movimento contra a corrupção transformá-los em três ultrajes, três estímulos, três bandeiras e três motivos adicionais para outros atos de protesto. Insaciáveis, os assaltantes de cofres públicos não vão parar espontaneamente. Precisam ser detidos pelos brasileiros que respeitam os códigos morais, desprezam ladrões e não capitulam.
Fonte: Coluna do Augusto Nunes - VEJA
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