Movimento convocado pelas redes sociais mobilizou cidadãos, especialmente jovens, a ocupar a Esplanada dos Ministérios contra a roubalheira política pela segunda vez. Próxima marcha está marcada para 15 de novembro
Naira Trindade_ Brasília247 – Vinte mil manifestantes, segundo a Polícia Militar, abriram mão do descanso no feriado de Nossa Senhora Aparecida para lutar por um país sem corrupção. Eram homens e mulheres, idosos e adolescentes, que se mobilizavam contra a roubalheira política, mas, principalmente, marchavam para sensibilizar os ministros do Supremo Tribunal Federal a votar em favor da validade da Lei Ficha Limpa. Os participantes também pediram o fim do voto secreto no Legislativo. Uma nova manifestação com o mesmo propósito está marcada para 15 de novembro, Dia da Proclamação da República.
O relógio marcava pouco mais de 10 horas quando os manifestantes reunidos em frente ao Museu da República começaram a caminhar rumo ao Supremo Tribunal Federal. De cara pintada, camisas pretas, munidas de apito, carregavam bandeiras do Brasil, faixas e vassouras para varrer a corrupção. Advogados, professores, médicos, donas de casa, aposentados, estudantes vibraram e cantaram: "Pula, sai do chão, na marcha contra a corrupção", "Voto secreto, não, eu quero ver a cara do ladrão", "O Congresso é a maior vergonha do Brasil", "Jaqueline, seu lugar é na Papuda"; "STF, cai na real, o Ficha Limpa é constitucional". Na Praça dos Três Poderes, entoaram o Hino Nacional.
Nesta quarta-feira, os rostos jovens eram maioria. "A juventude, muito ligadas às redes sociais, está entendendo a importância de lutar pelos direitos e os políticos veem isso através da divulgação da mídia", acredita a servidora pública Cristia Lima, de 41 anos, moradora da Asa Sul. "É melhor ir para rua do que ficar em casa esperando alguma coisa mudar", completou a estudante Luísa de Souza, 15 anos, moradora da Asa Norte. A menina tinha o rosto pintado metade de preto, em representação ao luto pelo que acontece no País, e o restante de branco, pela paz.
Em sua segunda edição, a Marcha contra a Corrupção superou a expectativa de participantes. Tinha a confirmação de 18 mil pessoas no Facebook. Segundo o Corpo de Bombeiros, o movimento seguiu tranquilo, sem registro de incidente.
Na primeira edição, no feriado de 7 de setembro, Dia da Independência, foram 25 mil pessoas. O movimento teve mais força porque muitas pessoas foram assistir ao desfile na Esplanada dos Ministérios e se juntaram à marcha.
Simbólico
Em feriados e fins de semana, os alvos dos protestos, as autoridades, geralmente, não estão em Brasília. Mas o objetivo é mesmo mobilizar o máximo possível de manifestantes. "A marcha durante a semana teria mais visibilidade, mas talvez contasse com menos pessoas porque muitos trabalham e estudam", disse Diego Ramalho, um dos organizadores do movimento. "Por isso, não estamos restritos apenas ao movimento nas ruas, mas também dentro dos órgãos fazendo o lobby com políticos."
Embora a próxima marcha esteja marcada para o feriado de 15 de novembro, Ramalho alerta que uma nova mobilização pode ocorrer a qualquer momento. Caso os ministros do Supremo resolvam votar a validade da Lei da Ficha Limpa, os integrantes do Movimento Contra a Corrupção Eleitoral vão fazer uma convocação relâmpago para se unirem em frente ao tribunal superior. "Vamos entregar togas aos manifestantes como forma de protestar pela validade da lei", adiantou Ramalho.
Carona
Manifestantes contra a especulação imobiliária, contra o suposto trem da alegria na Secretaria da Fazenda e até mesmo contra o sigilo dos paraísos fiscais pegaram carona no movimento. Para eles, todas as irregularidades têm raiz na corrupção. "Os paraísos fiscais escondem o dinheiro da corrupção, recurso desviado do contribuinte", reclamou o assessor do Instituto Socioeconômico Lucídio Barbosa, 33 anos, vestido de Capitão Corrupto, personagem criado por ele.
A preocupação com os frequentes e gigantescos desvios de verba pública e com a triste situação da saúde e de educação levou o casal Vitória Alves Ferreira, de 72 anos, e Hely Júlio Ferreira, de 73, às ruas. "Os políticos estão nos obrigando a sair de casa; se fossem honestos, não precisaríamos lutar pelo óbvio, a garantia dos nossos direitos", disse Vitória. "Precisamos fazer esse sacrifício para deixar um país melhor aos nossos netos."
De carro enfeitado, o artesão Antônio Macedo de Almeida, de 66 anos, deixou Santo Antônio do Descoberto, município goiano onde vive, e chegou logo cedo para se unir aos manifestantes. "É preciso se mexer, depois dessa mobilização toda eu não acredito que os políticos tenham coragem de continuar roubando nosso dinheiro", disse. "Eles precisam ouvir o clamor do povo."
Veja nossas galerias de fotos da II Marcha contra corrupção.
Fonte: Brasília 247 - 12 do Outubro de 2011 às 17:12
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