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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O GOVERNADOR VAI DE ÔNIBUS PARA O BURITI 'A TÁ...'

Se fosse verdade, no trajeto entre o Lago Sul e o palácio Agnelo Queiroz veria que o péssimo sistema de transporte coletivo não anima os brasilienses a deixar o carro em casa

 


Informações Naira Trindade_ Brasília247 – Se o governador Agnelo Queiroz encarasse o desafio de deixar o carro em casa e fosse de ônibus ao trabalho, demoraria pelo menos 1h20 para fazer o percurso de 15,3 km. De automóvel, gastaria uns 15 minutos. E com muito mais conforto.

As dificuldades que o governador teria para ir do Setor de Mansões Dom Bosco, no Lago Sul, ao palácio do governo na Praça do Buriti, demonstram a inutilidade de apelar aos brasilienses para deixar seus automóveis na garagem e encarar o desafio de se locomover utilizando o transporte coletivo.

De sua casa, nos altos da QI 19, até a parada de ônibus mais próxima, Agnelo teria de caminhar por 2,5 km. Não há transporte coletivo para isso. Entre a casa e a principal via do Lago Sul, por onde passam os ônibus, é descida. Na volta, o governador teria de enfrentar uma longa subida.

Pelo caminho, há calçadas que ajudam a percorrer o trajeto, mas não há árvores para torná-lo mais fresco. Alguém de terno e sapatos de couro, carregando uma pasta ou mochila, especialmente nesses tempos de seca e calor, chegaria ao ponto bem cansado. Em tempos de chuva, chegaria molhado e cansado.

Após cerca de 30 minutos de caminhada o governador ainda poderia ter de esperar até 20 minutos para pegar o ônibus. Como os horários estabelecidos não funcionam, Agnelo teria de contar com a sorte para esperar pouco. E a parada de acrílico tem apenas quatro assentos, pois um está quebrado. Pela manhã, Agnelo provavelmente teria de esperar o ônibus em pé mesmo.

Do ponto até a Rodoviária do Plano Piloto – porque não há ônibus direto do Lago Sul ao Buriti – são mais 9,9 km. Os ônibus sucateados do sistema de transporte público gastam, em média, 25 minutos para fazer o trecho. Isso quando os motoristas respeitam o itinerário ou os carros não quebram pelo caminho. Dos 2,8 mil ônibus cadastrados no sistema, 35% têm mais de sete anos de uso.

Na Rodoviária do Plano Piloto, o governador se misturaria aos 700 mil passageiros que circulam pelo local diariamente para trocar de ônibus e, finalmente, chegar ao trabalho.

Talvez tivesse de enfrentar uma fila. Não há nenhuma placa informando qual o coletivo que passa pelo Buriti. Se não perguntar, o passageiro não tem como saber que o veículo que segue para o Cruzeiro passa em frente ao palácio do governo.

Doze minutos de trânsito separam a Rodoviária do Buriti, são 2,9 km. Agnelo chegaria ao trabalho já cansado, suado, amarrotado. E provavelmente já estaria pensando na volta, quando teria um problema adicional: à noite o caminho a pé é bem perigoso.

O que o governador passaria se se arriscasse a aderir à campanha mundial do dia sem carro é o que passam, diariamente, milhares de brasilienses que não têm opção: dependem do péssimo transporte coletivo do Distrito Federal.

"A caminhada até a parada de ônibus é um tormento, são 40 minutos de ladeira", conta a doméstica Marinalda Teixeira da Silva, 27, que trabalha na casa ao lado da do governador, no Lago Sul, e precisa percorrer o trajeto a pé todos os finais de semana para voltar à Cidade Ocidental, em Goiás.

"Os carros são velhos e as passagens, caras", descreve a catadora de lixo e moradora da Estrutural, Cristine de Jesus, 43 anos, que adoraria presenciar ao drama de um chefe de Estado ao viver pelo menos um dia como um trabalhador comum.

Tarefa difícil - Deixar o carro em casa, em Brasília, não é uma tarefa fácil. "É um dia para ser chamado à reflexão, mas de nada adianta refletir numa cidade onde não há ações práticas para estimular o transporte coletivo", observa Artur Morais, professor e pesquisador de Políticas Públicas de Transportes da UnB. "O governo nada fez para mudar a realidade ruim do sistema em Brasília."

Em meio às chamadas para deixar o carro na garagem, o governador Agnelo Queiroz recebeu a visita do embaixador do Reino dos Países Baixos, ou Holanda, no Brasil, Kees Pieter Rade, além dos presidente e do vice-presidente da organização não-governamental Rodas da Paz, Uirá Lourenço e Beth Davidson.

Eles apresentaram ao governador duas propostas de rotas turísticas para ciclistas em Brasília: a Rota Monumental de Arquitetura e a Rota do Lazer. Impressas em um quadro, as rotas foram dadas de presente ao governador, devido ao ano da Holanda no Brasil. Essa pode ser a única participação do governador nas comemorações da data. A assessoria de imprensa dele não confirmou se ele vai deixar o carro em casa amanhã.

O governador, na verdade, está morando na residência oficial de Águas Claras. De lá, andando alguns quilômetros, teria a opção de pegar o metrô em Águas Claras e descer na Rodoviária, seguindo de lá para o Buriti. Ou poderia andar um pouco menos e pegar o ônibus na Estrada Parque Taguatinga.

Ciclovias - Em comemoração ao Dia mundial sem carro, as vias N1 e S1 serão parcialmente transformadas em ciclovia amanhã. Uma de suas faixas será interditada, das 6h30 às 19h, para a circulação de ciclistas entre a rodoviária e os ministérios. A ação de mobilidade urbana é uma parceria do Detran com a ONG Rodas da Paz, que emprestará 20 bicicletas a população participante do evento.

Fonte: Brasília 247
Blog do Odir Ribeiro - Rádio Corredor

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