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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Modo petista de censurar, onde ninguém ouve, não vê e não fala

A grande midia vira alvo preferido do governo

Na primeira semana de janeiro de 1985, faltando oito dias para o Colégio Eleitoral indicar o sucessor do general João Figueiredo na presidência da República, o candidato Paulo Maluf, que disputava o posto com Tancredo Neves, foi recebido com ovos podres ao subir em um palanque em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

No dia seguinte, o Jornal de Brasília publicou em sua manchete que Maluf havia sido ovacionado na capital sulmatogrossense.

Ainda na década de 80, embora bem antes da reunião do Colégio Eleitoral, o Correio Braziliense estampou em sua manchete que a gripe aviária, então restrita ao Sul do País, ameaçava migrar e infectar a produção da Só Frango.

Dois dias depois, a Só Frango, que tinha mídia publicitária apenas na TV Globo, passou a programar anúncios na TV Brasília. E o Correio, manipulando a informação, noticiou que a gripe aviária estava sob controle, descartando a chegada do vírus à capital da República.

Não se trata de floclore. São fatos reais que servem para ilustrar o poder da imprensa em benefício próprio. Há situações em que se extrapola. Nessas ocasiões a verdade é deixada de lado, a ética é jogada na gaveta e o espírito de Assis Chateuabriand reina impune, sem obstáculos.

Fatos passados, testemunhados. Mas há registros novos de auto-censura do ouvi dizer. São muitos. No mundo da comunicação virtual, então, chega-se mesmo a abusar do proclamado direito à informação.

Vem o PT, agora, e sugere um marco regulatório para a comunicação no Brasil. Os opositores da idéia se unem para combater a proposta, que se avançar, terá de passar pelo crivo do Congresso Nacional.

O argumento dos petistas é de que no Primeiro Mundo, a imprensa tem suas responsabilidades. No Brasil, respeitada a tese do PT, os jornalistas parecem viver na Casa da Mãe Joana.

Mas o PT erra ao misturar toda a mídia, como se buscasse manipular uma farinha do mesmo saco. O partido ataca os jornalistas como se fossem eles conspiradores. Um segmento a que seus seguidores costumam se referir como Pequena Imprensa Golpista.

Na moção apresentada no 4º Congresso realizado em Brasília neste fim de semana, o marco regulatório para os meios de comunicação é uma forma de combater a partidarização e a parcialidade da imprensa.

A proposta envolve um amplo leque. O partido que está no poder tenta associar o marco regulatório à democratização da mídia. Até porque, lembra a moção, desde 2009 inexiste no Brasil uma Lei de Imprensa, abolida naquele ano pelo Supremo Tribunal Federal, ao considerar a legislação incompatível com a Constituição.

Para o PT, alguns veículos e jornalistas fazem um jornalismo marrom que deve ser responsabilizado toda vez que falsear os fatos ou distorcer as informações para caluniar, injuriar ou difamar.

Os petistas dizem ter como princípio repudiar, repelir e barrar qualquer tentativa de censura e restrição à liberdade de imprensa. Porém, deixam claro que o jornalismo marrom, que faz uso de práticas ilegais, deve ser responsabilizado toda vez que falsear os fatos ou distorcer as informações.

Uma justa preocupação. Quem errar, que pague por seus erros.

Entretanto, até onde seria falsear a verdade dizer, por exemplo, que a presidente Dilma Rousseff é feia, mas que, por dispor de verba secreta, pode pagar uma cirurgia plástica a Ivo Pitanguy? Por acaso seria calunioso apontar corrupção na Esplanada dos Ministérios?

Ser ou não ser Poder - e com ele estar. Eis a questão.

Entretanto, poucos observam que o alvo do PT, com esse marco regulatório, é a grande mídia. O poder representado pelo partido quer matar por inanição financeira quem fala mal do governo.

A prova está na condenação do que se convencionou chamar de AI-5 Digital - aquele projeto que tramita no Congresso Nacional e que criminaliza práticas ofensivas na internet.

A grande mídia dizer que o poder fede, é crime. Mas, os blogueiros e jornais virtuais que se dizem independentes nas vinte e quatro horas do dia, sete dias por semana, passarem a mão na cabeça do grupo representado por Dilma, Lula, Delúbio e Silvinho, é louvável.

A lição que se extrai da moção do PT é que ninguém viu, não ouviu. E consequentemente, não pode falar.

Por enquanto todos serão ovacionados. Até que sejam repudiados e sepultados.

Fonte: Publicado em 4 de Setembro de 2011 por José Seabra

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