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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

INDIGNADOS BRASILIENSES OCUPAM A ESPLANADA 'É SÓ UM RECADO'

Marcha contra a corrupção reuniu 25 mil pessoas. Manifestantes protestaram, criticaram políticos e lavaram o Ministério da Agricultura e a rampa do Congresso Nacional


Natalia Emerich_Brasília247 – O feriado de 7 de setembro, em Brasília, dividiu o Eixo Monumental: de um lado, o desfile oficial do Dia da Independência; de outro, uma marcha contra a corrupção no Brasil. Mas ao fim do desfile, enquanto a Esquadrilha da Fumaça desenhava o céu, muitos dos que assistiam à parada cívico-militar se juntaram aos milhares de manifestantes contra a corrupção. E assim, com cartazes, faixas, caras pintadas e roupas pretas, cerca de 25 mil pessoas protestaram com veemência, mas em clima festivo. Calcula-se que na manhã desta quarta-feira cerca de 50 mil pessoas circularam pela Esplanada.

Já às 10h, dois mil participantes já estavam concentrados em frente ao Museu da República. Uma hora depois a praça já tinha seis mil manifestantes, que deram início à marcha. "As pessoas que assistem ao desfile vão poder ver além das festividades", afirmou Sérgio Monroe, um dos organizadores da manifestação, que foi incubada na rede social Facebook.
 

O evento foi democrático. Pessoas de diferentes idades, classes sociais e setores profissionais se reuniram por uma causa específica: mostrar que a sociedade está na luta contra a corrupção. A família Rech, por exemplo, aproveitou a manhã do feriado para protestar. Convencidos pelos filhos Gian, 18 anos, e Giovanna, 14, o jornalista Marcelo e a publicitária Farech foram às ruas se manifestar juntos pela primeira vez. O pai não esconde o orgulho pela iniciativa dos garotos: "É importante ver os filhos lutarem contra uma grande causa. Ele estuda em universidade pública e sente na pele as consequências da corrupção".

Gian é estudante de Biologia da Universidade de Brasília. Para ele, o texto da lei é muito bonito e pouco praticado. "O que mais se faz no Congresso é achar brechas na lei, e não aplicá-las", critica. Com um capacete em formato de jaula, estudantes de artes cênicas da Faculdade Dulcina reivindicaram com criatividade. "O nosso corpo está livre, mas a mente está presa e ignora fatos como a corrupção", justifica Camila Ellen, 19.
 

O geólogo Raimundo Carvalho, 62, resumiu o ato como o início de uma vontade enorme de dar fim ao que predomina na política atual. "Basta de corrupção, basta do abuso de poder no presídio mais liberal do país, o Congresso." Os organizadores da marcha deixaram claro que não haveria conteúdo partidário. Nada de bandeiras de partidos, nem discursos de políticos. Mas os que comparecessem seriam bem recebidos.

O senador Rodrigo Rollemberg, do PSB, foi, mas com o pé quebrado imobilizado por uma bota, participou apenas da concentração no museu e de um pequeno trecho na Esplanada. Segundo ele, foi "um recado": "Uma manifestação muito importante, sinal de que a população, especialmente a juventude, não tolera mais a corrupção".

Alvos
Durante a caminhada, que terminou na Praça dos Três Poderes, não faltaram alvos a ser criticados. A absolvição da deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF) pelo voto secreto de 265 deputados foi um dos fatos mais destacados durante a caminhada. A bancária aposentada Kátia Botelho, 55, decidiu participar da mobilização por causa disso. "O cinismo político está demais", indigna-se. A foto da deputada estampou inúmeros cartazes. "Fora Jaqueline" e "265 covardes" eram alguns deles.
 

Os manifestantes pediram até que Ricardo Teixeira deixe a presidência da CBF. Episódios como o mensalão, a Caixa de Pandora e os últimos escândalos de corrupção nos ministérios do Turismo, da Agricultura e dos Transportes também foram criticados.

O servidor público Manoel Damazio, 30, mostrou-se indignado com o que considera podridão da política. "Eles querem aumentar nossos impostos para aumentar a arrecadação em mais R$ 10 milhões, mas o que desviam com corrupção bancaria toda a saúde e educação", reclama.

Durante o percurso, alguns participantes aproveitaram para limpar espaços públicos. Com vassouras, rodos e baldes os manifestantes lavaram a rampa lateral do Congresso Nacional e a parede do Ministério da Agricultura. Um dos limpadores, Arthur Alves, 20, justifica: "Brasília está muito suja, já que os políticos não limpam, a gente começou o trabalho".  No fim do desfile, os participantes invadiram o espelho d´água do Congresso.

Ao cruzar com pessoas que admiravam o desfile oficial, alguns manifestantes berraram "Você aí parado, também foi roubado". O recado parece ter sido ouvido. De acordo com a major Ana Luiza Azevedo, da Polícia Militar, grande parte dos que estavam no desfile migrou para a marcha. Segundo ela, o trajeto foi percorrido sem incidentes e conflitos.

Para garantir a segurança, a Polícia Militar deslocou 27 viaturas, 20 motos, 1.200 policiais a pé e 76 do batalhão de choque. Cerca de 150 bombeiros e sete viaturas de socorro também estavam no local.
 
 

Veja mais fotos da marcha contra a corrupção na galeria de imagens.

Fonte: Brasília 247 - 07 do Setembro de 2011 às 15:15.

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