Marco
Feliciano promete renunciar à presidência da Comissão de Direitos
Humanos desde que José Genoino e João Paulo Cunha deixem a CCJ. Petista
classifica a declaração de "desaforo"
Feliciano voltou a ser criticado pela presidência da Câmara |
A tão esperada conversa do deputado Marco Feliciano (PSC/SP) com as
lideranças parlamentares e a Mesa Diretora da Câmara, marcada para
ontem, serviu para esquentar ainda mais a arranhada relação do
parlamentar com o PT. Ao ser pressionado para deixar o comando da
Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM), o pastor condicionou a
renúncia à saída dos réus do mensalão José Genoíno (PT/SP) e João Paulo
Cunha (PT/SP) da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O líder
petista, José Guimarães (CE), classificou a proposta de “provocação” e
“desaforo”. Sem a contrapartida, Feliciano disse que fica, mas saiu do
encontro com uma bronca do presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves
(PMDB/RN), que o obrigou a reabrir as sessões do colegiado: “Ele vai ter
que se comportar”.
Enquanto alguns líderes, como o do PSDB, Carlos Sampaio (SP), se
recusaram a participar do encontro porque não vislumbravam qualquer
alternativa para a crise, outros saíram dele decepcionados. “Foi uma
reunião totalmente desnecessária, sem efeito algum, não deveria nem ter
participado, foi só para ouvir desaforos”, reclamou José Guimarães,
referindo-se à condição imposta por Feliciano para deixar o comando da
CDHM. “Quando ele disse que não ia renunciar e pediu que tivéssemos
misericórdia, porque estava sendo perseguido, foi desanimador”, comentou
Ivan Valente (SP), líder do PSol. “Ele quer se manter a qualquer custo,
está se colocando como vítima para aproveitar o momento a seu favor e
acaba aumentando o impasse”, reclamou o líder do PPS, Rubens Bueno (PR)
"Ele (Feliciano) quer se manter a qualquer custo, está se colocando como vítima para aproveitar o momento a seu favor e acaba aumentando o impasse", Rubens Bueno, líder do PPS na Câmara |
Os apelos pela saída, porém, não foram unânimes. Muitos líderes
evitaram falar, e outros defenderam o direito de o pastor se manter na
presidência do colegiado. “É lógico que é uma situação delicada para a
imagem da Casa, mas, regimentalmente, não há nada a ser feito. Todos
temos direito de nos manifestar dentro dos limites da lei”, argumentou o
líder do PSD, Eduardo Sciarra (PR). Com o apoio de parte dos colegas,
Feliciano saiu do encontro sentindo-se fortalecido. “A maioria dos
líderes foi a favor da minha permanência, porque é regimental. Eu fico,
fui eleito democraticamente. Estou tentando viver, estou com seis quilos
a menos. Deem-me uma chance de trabalhar”, disse.
A autoconfiança do pastor, no entanto, esbarrou no Regimento da Casa e
na irritação de Henrique Alves. A decisão tomada por Feliciano de fechar
as próximas sessões da CDHM teve que ser revogada. “Essa história de
comissão proibir o acesso do povo às suas reuniões é inviável, aqui é a
Casa do povo”, declarou o peemedebista. A entrada de manifestantes nas
reuniões, a partir de agora, só poderá ser proibida se os protestos
atrapalharem a sessão.
Comportamento
Além de exigir a abertura da comissão, Henrique Alves criticou o
comportamento e os comentários de Feliciano. “Ele não pode associar a
sua palavra de presidente da comissão e de pastor, não pode ser aqui uma
pessoa, exercer a presidência, que tem dever de agregar, e sair daqui e
ter uma posição diferenciada, em conflito com as minorias”, ponderou.
“O compromisso dele agora é de que vai se comportar respeitosamente aqui
e fora daqui.”
Apesar de não haver mais possibilidades regimentais para Feliciano
deixar o comando da CDHM, parlamentares contrários ao pastor ainda
estudam medidas alternativas. Por meio de projetos de resolução a serem
apresentados à Mesa Diretora, eles querem aumentar o número de
integrantes do colegiado, o que poderia esvaziar a hegemonia evangélica
na atual composição, ou permitir que um presidente de comissão possa ser
deposto do cargo pelo Conselho de Ética em caso de quebra de decoro —
atualmente, a única punição possível é a perda de mandato. “Ainda vamos
encontrar uma saída”, promete André Figueiredo.
À tarde, ao ser questionado se teria condicionado sua renúncia à
presidência da CDHM à de deputados condenados pelo mensalão, Feliciano
ironizou: “Será que eu falei isso mesmo? Tá gravado?”
"Será que eu falei isso mesmo? Tá gravado?"
Marco Feliciano, deputado do PSC/SP, sobre a possibilidade de deixar a CDHM caso os condenados pelo mensalão deixem a CCJ.
Fonte: Correio Braziliense - Por Adriana Caitano e Amanda Almeida
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