O
mau desempenho de Eduardo Campos nas pesquisas fez crescer no PSB o
debate interno sobre as limitações que a parceria com Marina Silva e sua
Rede impõem ao projeto presidencial da legenda. Além de discordar nos
detalhes, os integrantes da coligação começam a se desentender no
essencial.
No detalhe, o PSB contrariou Marina ao aprovar em São Paulo a aliança
com o governador tucano Geraldo Alckmin. No essencial, os
correligionários de Campos estão incomodados com a aversão da candidata a
vice ao fechamento de acordos que poderiam aumentar o tempo de
propaganda da coligação no rádio e na tevê.
Nesse ponto, o incômodo se alastra para outro partido que integra a
caravana de Campos, o PPS. Presidente da legenda, o deputado Roberto
Freire ecoa, em privado, a preocupação dos operadores do PSB com o
nanismo eletrônico da candidatura, que dispõe, por ora, de pouco mais de
dois minutos de propaganda.
Há uma semana, Freire teve uma conversa com Alckmin, cuja reeleição o
PPS também apoia. Os dois conversaram sobre o interesse de Gilberto
Kassab, do PSD, de tornar-se vice na chapa de Alckmin. Freire
manifestou-se a favor, desde que Kassab desistisse de apoiar, no plano
nacional, a reeleição de Dilma Rousseff.
Lero vai, lero vem Alckmin também revelou-se incomodado com a hipótese
de associar-se a Kassab sem que ele se desvinculasse de Dilma. O
governador tucano ainda não digeriu o fato de o atual vice-governador de
São Paulo, Guilherme Afif Domingos, do PSD de Kassab, ter virado
ministro de Dilma.
Freire enxergou na conversa com Alckmin uma oportunidade para alargar a
coligação de Campos. Sugeriu ao presidenciável do PSB que tentasse
atrair Kassab para o seu projeto. Para checar a disposição de Kassab,
decidiu-se acionar o ex-senador catarinense Jorge Bornhausen, cujo
filho, o deputado Paulo Bornhausen, é, hoje, presidente do diretório do
PSB em Santa Catarina.
Em diálogo com Kassab, seu amigo desde o tempo em que ambos coabitavam o
DEM, Bornhausen verificou que o mandachuva do PSD não soou 100% avesso à
ideia de rever a promessa de apoiar Dilma. Conforme já noticiado aqui,
em troca da garantia da posição de vice na chapa de Alckmin, Kassab
admitiu pelo menos a hipótese de empurrar o seu partido para uma
neutralidade na disputa federal.
Os aliados de Campos querem mais do que isso. Entre quatro paredes, a
cúpula do PSB de São Paulo, que indicou o deputado Márcio França para o
posto de segundo na chapa de Alckmin, se dispõe a abrir mão da posição
se Kassab entregar o tempo de propaganda do PSD federal para Campos.
O problema é que o êxito eventual de uma articulação como essa
provocaria um curto-circuito nas relações com Marina. Pode-se acusar a
líder da Rede de tudo, menos de incoerência. Para Marina, a lógica
eleitoral é como a gravidez: nenhuma mulher pode estar um pouquinho
grávida, como não se pode defender uma política um pouco nova.
Numa entrevista que concedeu ao blog em outubro de 2013, logo depois de
firmar a parceria com Eduardo Campos, Marina fixou os seus limites:
“Não queremos subordinar essa visão de política de país à lógica de que é
o ajuntamento de partidos para ter mais tempo de televisão que vai ser o
determinante”, disse.
Sem meias palavras, Marina declarou que, “com certeza”, não admitiria
uma aliança com Kassab (assista abaixo). Quer dizer: ninguém pode alegar
agora que fechou um acordo com a ex-senadora no escuro. Ficou entendido
desde o início que, se personagens como Kassab entrassem na coligação
por uma porta, Maria poderia se retirar por outra, levando consigo o
prestígio materializado nos 20 milhões de votos que amealhou na sucessão
de 2010.
Pesquisa feita por um grande instituto a pedido do PSB revela que o
volume de intenção de votos de Campos cresce na razão direta da
associação do nome dele com o de Marina. É graças a essa perspectiva de
crescimento que os correligionários de Campos ainda trazem na coleira
suas opiniões sobre a estrela da chapa. Mas a harmonia, por artificial, é
cada vez mais frágil.
Nesta segunda-feira, Marina estará em Belo Horizonte. Terá um encontro
com a seção mineira da Rede, dará uma palestra e concederá entrevistas.
Muito provavelmente, ela realçará mais uma divergência em relação ao
PSB. Em Minas, como queria Marina, o partido de Campos distanciou-se do
PSDB de Aécio Neves.
Diferentemente do que sucedeu em São Paulo, o PSB mineiro optou por
lançar uma candidato próprio ao governo estadual. Porém, escolheu o
deputado federal Júlio Delgado, velho aliado do tucanato, para encabeçar
a chapa. Maria e sua Rede pegam em lanças por outro nome: o médico e
ambientalista Apolo Heringer Lisboa.
Evocando os vínculos de Delgado com o PSDB mineiro, Apolo refere-se a
ele como candidato “laranja”. Sustenta que a convenção estadual do PSB
para a escolha do candidato a governador vem sendo organizada “de forma
manipulada e viciada, bem aos padrões da velha política”, sem respeitar
“a democracia interna e a ética.”
Fonte: Blog do Josias de Souza.
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