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terça-feira, 10 de junho de 2014

Eleições: Crescem divergências entre PSB e Marina Silva

O mau desempenho de Eduardo Campos nas pesquisas fez crescer no PSB o debate interno sobre as limitações que a parceria com Marina Silva e sua Rede impõem ao projeto presidencial da legenda. Além de discordar nos detalhes, os integrantes da coligação começam a se desentender no essencial.

No detalhe, o PSB contrariou Marina ao aprovar em São Paulo a aliança com o governador tucano Geraldo Alckmin. No essencial, os correligionários de Campos estão incomodados com a aversão da candidata a vice ao fechamento de acordos que poderiam aumentar o tempo de propaganda da coligação no rádio e na tevê.

Nesse ponto, o incômodo se alastra para outro partido que integra a caravana de Campos, o PPS. Presidente da legenda, o deputado Roberto Freire ecoa, em privado, a preocupação dos operadores do PSB com o nanismo eletrônico da candidatura, que dispõe, por ora, de pouco mais de dois minutos de propaganda.

Há uma semana, Freire teve uma conversa com Alckmin, cuja reeleição o PPS também apoia. Os dois conversaram sobre o interesse de Gilberto Kassab, do PSD, de tornar-se vice na chapa de Alckmin. Freire manifestou-se a favor, desde que Kassab desistisse de apoiar, no plano nacional, a reeleição de Dilma Rousseff.

Lero vai, lero vem Alckmin também revelou-se incomodado com a hipótese de associar-se a Kassab sem que ele se desvinculasse de Dilma. O governador tucano ainda não digeriu o fato de o atual vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, do PSD de Kassab, ter virado ministro de Dilma.

Freire enxergou na conversa com Alckmin uma oportunidade para alargar a coligação de Campos. Sugeriu ao presidenciável do PSB que tentasse atrair Kassab para o seu projeto. Para checar a disposição de Kassab, decidiu-se acionar o ex-senador catarinense Jorge Bornhausen, cujo filho, o deputado Paulo Bornhausen, é, hoje, presidente do diretório do PSB em Santa Catarina.

Em diálogo com Kassab, seu amigo desde o tempo em que ambos coabitavam o DEM, Bornhausen verificou que o mandachuva do PSD não soou 100% avesso à ideia de rever a promessa de apoiar Dilma. Conforme já noticiado aqui, em troca da garantia da posição de vice na chapa de Alckmin, Kassab admitiu pelo menos a hipótese de empurrar o seu partido para uma neutralidade na disputa federal.

Os aliados de Campos querem mais do que isso. Entre quatro paredes, a cúpula do PSB de São Paulo, que indicou o deputado Márcio França para o posto de segundo na chapa de Alckmin, se dispõe a abrir mão da posição se Kassab entregar o tempo de propaganda do PSD federal para Campos.

O problema é que o êxito eventual de uma articulação como essa provocaria um curto-circuito nas relações com Marina. Pode-se acusar a líder da Rede de tudo, menos de incoerência. Para Marina, a lógica eleitoral é como a gravidez: nenhuma mulher pode estar um pouquinho grávida, como não se pode defender uma política um pouco nova.

Numa entrevista que concedeu ao blog em outubro de 2013, logo depois de firmar a parceria com Eduardo Campos, Marina fixou os seus limites: “Não queremos subordinar essa visão de política de país à lógica de que é o ajuntamento de partidos para ter mais tempo de televisão que vai ser o determinante”, disse.

Sem meias palavras, Marina declarou que, “com certeza”, não admitiria uma aliança com Kassab (assista abaixo). Quer dizer: ninguém pode alegar agora que fechou um acordo com a ex-senadora no escuro. Ficou entendido desde o início que, se personagens como Kassab entrassem na coligação por uma porta, Maria poderia se retirar por outra, levando consigo o prestígio materializado nos 20 milhões de votos que amealhou na sucessão de 2010.

Pesquisa feita por um grande instituto a pedido do PSB revela que o volume de intenção de votos de Campos cresce na razão direta da associação do nome dele com o de Marina. É graças a essa perspectiva de crescimento que os correligionários de Campos ainda trazem na coleira suas opiniões sobre a estrela da chapa. Mas a harmonia, por artificial, é cada vez mais frágil.

Nesta segunda-feira, Marina estará em Belo Horizonte. Terá um encontro com a seção mineira da Rede, dará uma palestra e concederá entrevistas. Muito provavelmente, ela realçará mais uma divergência em relação ao PSB. Em Minas, como queria Marina, o partido de Campos distanciou-se do PSDB de Aécio Neves.

Diferentemente do que sucedeu em São Paulo, o PSB mineiro optou por lançar uma candidato próprio ao governo estadual. Porém, escolheu o deputado federal Júlio Delgado, velho aliado do tucanato, para encabeçar a chapa. Maria e sua Rede pegam em lanças por outro nome: o médico e ambientalista Apolo Heringer Lisboa.

Evocando os vínculos de Delgado com o PSDB mineiro, Apolo refere-se a ele como candidato “laranja”. Sustenta que a convenção estadual do PSB para a escolha do candidato a governador vem sendo organizada “de forma manipulada e viciada, bem aos padrões da velha política”, sem respeitar “a democracia interna e a ética.”

Fonte: Blog do Josias de Souza.

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