A
depredação de unidades comunitárias de segurança demonstra o abandono
da iniciativa criada para dar maior eficiência no combate ao crime. PMs
destacam a falta de efetivo para manter policiais nas unidades e outros
fazerem rondas.
Dois PCS de Santa Maria foram apedrejados na madrugada de sexta-feira em Santa Maria: um na Quadra 417... |
Se a proposta inicial dos Postos Comunitários de Segurança (PCS), da
Polícia Militar, era inibir e coibir a ação de vândalos e bandidos no
Distrito Federal, o tempo mostrou que as instalações pouco intimidam os
mais ousados. Nos últimos dias, pelo menos quatro unidades foram
depredadas e tiveram portas e janelas quebradas. Propostos pelo governo
passado e criados em 2008, muitos dos PCS estão abandonados e
sucateados. Na semana passada, o Correio percorreu vários deles e
detectou o descaso dos locais que deveriam oferecer mais segurança à
população. No Guará, por exemplo, o espaço está fechado com correntes e
cheio de pichações. Ninguém vê policiais lá dentro há muito tempo.
... E outro na Quadra 203: "Com os vidros quebrados, temos que ficar cuidando do posto e não podemos sair" |
No Guará 2, o espaço está fechado com correntes e cheio de pichações: sem policiais há muito tempo |
"Depois que criaram (os postos), não fui mais assaltado. Eles oferecem segurança, o problema é que algumas pessoas os depredam" Cláudio Maciel, 43 anos, comerciante |
Armados com pedras e até bombas, vândalos danificam constantemente os postos comunitários. No Riacho Fundo 2, na semana do Natal, pessoas não identificadas picharam o local e direcionaram xingamentos aos policiais militares. No momento da ação, os PMs haviam saído para fazer patrulhamento na região. A tinta preta foi retirada pelos próprios policiais. “É complicado. Se a gente fica dentro do posto, a população fica sem reforço no policiamento. Se a gente vai para o patrulhamento, fazem isso. E com o efetivo que a PM tem hoje, não dá para colocar mais policiais na rua”, conta um militar, que preferiu não ter o nome divulgado.
Se, no Riacho Fundo 2, os policiais conseguiram limpar as marcas dos
vândalos, em Santa Maria PMs trabalham ao lado de vidros estilhaçados e
de uma rampa quebrada. Na madrugada de sexta-feira, dois PCS foram alvos
de vândalos, nas quadras 203 e 417 da região administrativa. Com pedras
e uma bomba, quebraram as portas, o corrimão e a rampa de acesso. Em
seguida, saíram sem que fossem identificados. Dias antes, outra unidade
na mesma região foi danificada. “Quem perde com isso é a população.
Agora, com os vidros quebrados, temos que ficar cuidando do posto e não
podemos sair para fazer ronda”, disse um policial, que também prefere
manter o anonimato. Somente em Santa Maria, pelo menos três unidades
estão depredadas. Até o fechamento desta edição, nenhum suspeito havia
sido preso.
Apesar da situação em que se encontram vários postos comunitários, boa
parte dos comerciantes acredita que a instalação das unidades amenizou a
ação de bandidos. Proprietário de uma padaria em Santa Maria há 16
anos, Cláudio Maciel, 43, disse que, desde que um dos postos foi
instalado perto do estabelecimento dele, na Quadra 417, o local não foi
invadido por assaltantes. “Antes, roubavam o tempo inteiro. Foram uns 40
roubos. Depois que criaram, não fui mais assaltado. Eles oferecem
segurança, o problema é que algumas pessoas depredam os locais”, contou o
comerciante.
Estrutura
Não bastasse a ação criminosa, os PCS também sofrem com a falta de
estrutura básica. Dentro das unidades visitadas pelo Correio, não há
computadores ou telefones. As poucas cadeiras com estofado de couro
destinadas aos militares estão rasgadas. E, se a proposta era aproximar a
polícia da população, o espaço não agrada a quem precisa do
atendimento. “A gente chega ao posto e não tem onde sentar direito. Eles
(os policiais) não têm computador para registrar nossa reclamação e não
podem deixar o lugar para nos acompanhar, senão fica vazio e quebram
tudo. Gastaram muito dinheiro e não conseguimos aproveitar nem o
policial nem o posto”, reclama um morador de Santa Maria, que prefere
não se identificar.
Na Quadra 31 do Guará 2, o posto comunitário está abandonado. Fechado
com correntes e com pichações por todos os lados, caiu em desuso.
“Foi-se o tempo que a gente via policiais aí dentro. Não me lembro mais
nem há quanto tempo está largado”, contou a funcionária de um comércio
localizado em frente à unidade. Segundo a mulher, o endereço é reduto de
moradores de rua durante a noite.
Os Postos Comunitários de Segurança foram promessa de campanha do
ex-governador José Roberto Arruda. A proposta era a construção de 300
unidades, ao custo total de mais de R$ 215 milhões. Mas, segundo a Polícia Militar, apenas 120 foram, de
fato, instalados. A reportagem enviou várias solicitações à PM, na
última semana, para esclarecer quais estão ativos, entender o esquema de
funcionamento de cada um, e também para que a corporação explicasse o
que será feito a fim de evitar novas atos de vândalos. Até as 21h de
sexta-feira, a PM não havia esclarecido as dúvidas.
Memória
Janeiro de 2013
Um posto comunitário foi depredado na Quadra 5 do Park Way, perto de
Águas Claras. O local estava abandonado, quando vândalos o invadiram e
quebraram as portas de vidro. Dentro da unidade, reviraram cadeiras e
outros objetos. Não furtaram nada.
Agosto de 2012
Um jovem de 20 anos apedrejou e quebrou os vidros do Posto Comunitário
da Polícia Militar da Cidade Estrutural. Ele aproveitou o momento em que
os militares saíram do local para auxiliar uma equipe do Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência (Samu) em um socorro e danificou o espaço.
Quando retornaram, os policiais flagraram o jovem ainda destruindo a
vidraça.
Fonte: Kelly Almeida - Correio Web.
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