Promotores de Justiça, magistrados e movimentos sociais fazem ato de repúdio à emenda que restringe investigações criminais
Protesto contra a PEC 37, em Belo Horizonte. Manifestações semelhantes ocorreram em todas capitais |
Na semana nacional de mobilização contra a Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) 37, que atribui às polícias Federal e Civil dos
estados e Distrito Federal a exclusividade das investigações criminais,
representantes do Ministério Público, da magistratura, dos servidores da
Polícia Federal, de movimentos sociais e organizações não
governamentais lotaram, ontem, em Belo Horizonte, o auditório do
Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA/MG).
Deputados estaduais e federais também hipotecaram apoio ao MP, que
encabeça as manifestações em todo o país para manter as suas atribuições
constitucionais de investigação, reconhecidas pelos tribunais
superiores. Atos do mesmo porte se repetiram em todas as capitais
brasileiras.
O presidente da Associação Mineira do Ministério Público (AMMP), Nedens
Ulisses Freire Vieira, coordenador nacional da campanha, recolheu
assinaturas de apoio contra a proposta que tramita na Câmara dos
Deputados. Na agenda da mobilização nacional, as assinaturas colhidas em
todos os estados serão entregues ao presidente da Câmara, Henrique
Eduardo Alves (PMDB/RN), no próximo dia 24.
Em Belo Horizonte, foram muitas as manifestações pela rejeição da
proposta. O procurador-geral de Justiça de Minas Gerais, Carlos André
Mariani, assinalou que a PEC 37 não vem para o bem, porque inviabiliza
as parcerias entre as instituições no processo de investigação. “Essa
proposta, promove, com certeza, a ineficiência e a impunidade, ao alijar
o Ministério Público e outros órgãos do poder investigatório”, disse
ele, chamando todos para lutar pelo esclarecimento da opinião pública
sobre os riscos que a matéria representa. “A PEC 37 é uma aberração e
uma violência contra a República, porque cria um nicho para um único
órgão do aparelho estatal, dando o monopólio da investigação criminal à
polícia judiciária”, assinalou.
O desembargador Edson Leite, representando a Associação dos Magistrados
Mineiros (Amagis) acrescentou que, “se o Ministério Público tem a
legítima outorga do controle dos Poderes e, sobretudo, das polícias, o
poder investigatório está implícito”.
Para a procuradora da República Zani Cajueiro, o motivo maior da
resistência à PEC 37 é o retrocesso que ela provocará ao estimular a
impunidade. Igual preocupação expressou o vice-presidente do Sindicato
dos Servidores da Polícia Federal em Minas Gerais, Christian Ribeiro,
para quem a PEC 37, em vez de discutir políticas para a segurança
pública, quer apenas tirar do MP e de outros órgãos o poder para
investigar, deixando as polícias Civil e Federal sozinhas na tarefa.
“Essa PEC cristaliza um modelo de polícia que não tem sido eficiente”,
garantiu Christian.
Prejuízos
Vários parlamentares apoiaram o movimento do Ministério Público. O
deputado federal Marcus Pestana (PSDB) considerou “o esvaziamento do MP
uma afronta à liberdade”. Ele anunciou o apoio da maioria da bancada
federal do PSDB à causa. O deputado Gabriel Guimarães (PT) lembrou o
caráter suprapartidário da Campanha Brasil contra a Impunidade, por ter
como objeto “a defesa da sociedade, da instituição e, sobretudo, a
defesa da apuração dos crimes”. “Não podemos deixar as polícias sozinhas
no combate à criminalidade”, acrescentou Gabriel Guimarães, sustentando
serem necessárias as parcerias entre as instituições no combate ao
crime organizado.
O presidente da Assembleia Legislativa mineira, Dinis Pinheiro (PSDB),
manifestou preocupação com a impunidade e os desmandos que acontecerão
caso a proposta seja aprovada. Para ele, as instituições têm de ter
compromisso com a eficiência, a correção e a transparência. “O
Ministério Público é grande parceiro nesse trabalho”, afirmou, propondo
um mutirão de enfrentamento à PEC 37, que “é um atentado à democracia”,
ressaltou.
“A PEC 37 é uma aberração e uma violência contra a República, porque
cria um nicho para um único órgão do aparelho estatal, dando o monopólio
da investigação criminal à polícia judiciária”
Carlos André Mariani, procurador-geral de Justiça de Minas Gerais
Fonte: Correio Braziliense - Por Bertha Maakaroun
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