Comissão da Câmara deve acolher recomendação da Corregedoria que pode levar até a cassação de Raad
A defesa do deputado Raad Massouh (PPL) pedirá a suspensão do processo
contra ele na Comissão de Etica e Decoro Parlamentar da Câmara
Legislativa até um pronunciamento do Judiciário. O corregedor da Câmara,
deputado Patrício, apresentou ontem parecer favorável à abertura de
processo contra Raad por quebra de decoro parlamentar — o que pode levar
até a cassação de mandato — e a comissão deve seguir sua re comendação.
Caso a comissão determine mesmo o início do processo, o distrital fará
outro pedido. Quer que a comissão realize os depoimentos publica mente,
como no caso da ex-distrital Eurides Brito.
COMO BENEDITO
O pedido para suspender a investigação será apresentado pelo advogado
de Raad, Cleber Lopes. O deputado defende que seja dado a ele o mesmo
tratamento dado a Benedito Domingos (PP). Réu em uma ação de improbidade
administrativa, Benedito está com o caso parado desde junho de 2011.
Além disso, enquanto existiam apenas denúncias contra Benedito, a
comissão de Etica suspendeu o processo.
"Não me sentiria bem se a Câmara usasse dois pesos e duas medidas, me
discriminando, sendo que o caso do outro deputado é mais sério e está
bem mais avançado", declarou Raad. A defesa do distrital explicou que a
intenção é aguardar o resultado no Judiciário.
MAIS ESTRUTURA
"A Justiça tem mais estrutura, mais abrangência para trazer um
resultado. A Câmara poderá precipitar um julgamento político, mas ela
não está acima do bem e do mal para determinar isso. Se por acaso
cassarem o deputado e a Justiça o absolver, depois não há como recuperar
o mandato", ponderou o advogado. Caso a comissão não atenda ao pedido
da defesa do deputado, Raad pleiteará sessões públicas. "Poderemos ver e
ouvir as testemunhas, mesmo as que me acusaram, passando a me defender.
Não tenho processo, não fui denunciado e não faz sentido uma ação aqui,
na Câmara", insistiu.
Ele é alvo de denúncia do Ministério Público por lavagem de dinheiro,
peculato e contratação ilegal. O distrital é autor de emenda no valor de
R$ 100 mil que teria sido desviada para um evento, sem licitação, em
Sobradinho.
A defesa de Raad, segundo o presidente da Comissão de Etica, Doutor
Michel (PEN), terá 30 dias para apresentar nova defesa. O relator será
escolhido por sorteio e terá 30 dias, prorrogáveis por mais 30, para
emitir parecer. "Vamos passar cópia do relatório da Corregedoria para os
membros, que vão votar contra ou a favor de abrir o caso. Se for
aceito, todo o processo poderá durar 90 dias", explicou Michel. A
decisão poderá ser na próxima semana.
O relatório entregue pela Corregedoria reúne dois processos que correm
em segredo de Justiça no Tribunal de Justiça do DF: o da denúncia feita
pelo Ministério Público e o das medidas cautelares, com 15 mandados de
busca e apreensão deferidos pelo MP. Este, para o corregedor Patrício
(PT), poderá indiciar outras pessoas.
TELEFONEMAS GRAVADOS
O processo traz supostas degravações de interceptações telefônicas
feitas pela Operação Mangona. "Houve quebra de decoro, mas caberá à
comissão analisar se abrirá processo. Fiz minha parte, baseado nos
autos, um total de duas mil páginas, que irá gerar o indiciamento,
inclusive, de mais pessoas", afirmou Patrício, sem esclarecer se "mais
pessoas" seriam s parlamentares.
PONTO DE VISTA
Atender ao pedido de Raad Massouh e dar-lhe o mesmo tratamento que se
adotou no caso do distrital Benedito Domingos — sobrestando o processo
na Comissão de Ética e Decoro Parlamentar — pode não ser o comportamento
mais correto pela Câmara, afirma o cientista político Valdir Pucci.
“Esse é mais um fato que vem colocar a Câmara Legislativa contra a
opinião pública, a visão da sociedade, que tem um sentimento de
impunidade muito grande”, explica o especialista. Segundo ele, pode até
ser visto legalmente como uma atitude correta, no entanto, a Câmara
entraria, novamente, na linha que contraria o interesse da população.
Fonte: Jornal de Brasília - Por Camila Costa
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