
Por Caio Junqueira -  Até  1º de janeiro deste ano, a população do Distrito Federal assistiu a um  governador eleito, José Roberto Arruda, e seu vice, Paulo Otávio, serem  afastados por suspeita de corrupção. Sucedeu-lhes Roberto Rosso, cuja  marca foi o abandono da cidade decorrente da ineficiência  administrativa. Agnelo Queiroz (PT) assumiu o Palácio do Buriti em  ambiente de alta expectativa de que alterasse essas rotinas que tomaram  da capital da República. O novo governador, porém, conseguiu  intensificá-las.
O  dia-a-dia do seu governo é marcado por denúncias de corrupção, muitas  de irregularidades e desmandos da época em que o governador foi ministro  do governo Luiz Inácio Lula da Silva, que atingem diretamente o  governador e seus principais auxiliares, boa parte delas incrementadas  com fatos controversos que só ampliam a folclórica política local. Na  semana passada, o policial João Dias, o mesmo que denunciou a corrupção  no Ministério do Esporte (de onde saiu Agnelo), entrou no Buriti com R$  159 mil em espécie para, segundo ele, devolver parte da propina que  recebera do homem-forte do governo, o secretário da Casa Civil, Paulo  Tadeu (PT). O dinheiro teria por objetivo dar um "cala-boca" em Dias e  impedir que ele denunciasse esquemas de corrupção de Agnelo. Tadeu nega.
Mas  não bastassem episódios como esse, faltam investimentos em áreas  alardeadas na campanha como prioritárias, o que tem levado à insurreição  contra o governador a ampla base do funcionalismo público petista que o  ajudou a chegar ao poder. As greves, ou as ameaças de greve, são o tom  dessa relação.
A  despeito disso, Agnelo e os que o cercam seguem inabaláveis. Em  novembro, na comemoração de seu aniversário, atacou a "extrema-direita"  pelas críticas e denúncias e comparou-se ao ex-presidente Juscelino  Kubitschek, o fundador da capital.
Brasília,  porém, poderia ainda estar em construção se Agnelo estivesse à frente  das obras. É o que se constata pela análise da execução orçamentária.  Nenhuma das principais secretarias ultrapassou 40% de recursos  liquidados este ano, de acordo com dados do Sistema de Gerenciamento  Orçamentário extraídos em 9 de dezembro pela equipe técnica da deputada  oposicionista Celina Leão (PSD). Obras, por exemplo, teve 23% dos  recursos liquidados, deixando em seu caixa disponíveis R$ 744,9 milhões.  Em Transportes o desempenho foi pior; apenas 12% do R$ 1,1 bilhão de  investimentos foi liquidado. Áreas tidas como prioritárias, saúde e  educação, seguem o mesmo perfil. Em geral, a taxa da execução  orçamentária de investimentos ficou em 16%.
Em  contrapartida, o volume total de recursos -dispêndios com pessoal,  custeio e investimentos-, destinados às Pastas ligadas à comunicação e  publicidade foi, respectivamente, de 91% e 61%. Algo que se confirma na  avalanche de propaganda que o brasiliense se acostumou a ver desde o  início de ano em horários nobres do rádio e da TV.
À  baixa execução soma-se o inchaço da máquina pública. Nem bem tomou  posse, Agnelo aumentou o número de secretarias. São 33, só cinco a menos  do que os 38 ministérios da União, mas 13 a mais do que do  ex-governador Rosso e 18 a mais do que Arruda. São Paulo, com população  quinze vezes maior, tem 26. Bahia, para ficar em um Estado também sob  comando do PT, tem 28 e população cinco vezes maior.

Em  Brasília há Pastas para todos os gostos. Há uma Secretaria da Criança,  uma da Juventude, outra do Idoso e, caso não se encaixe em nenhuma  delas, uma da Mulher. Também são contempladas as Secretarias do Entorno;  Micro e Pequena Empresa; Ordem Pública e Social; Promoção da Igualdade  Social; e Transparência e Controle. O inchaço da máquina também é  constatado em números. Gastos com pessoal cresceram 17% em 2011 e  aumentarão mais 17% em 2012. O governo, porém, justifica-se dizendo que o  custeio, que crescera 10% em 2011, diminuirá 9% em 2012.
Esses  valores são apenas o viés financeiro do inchaço da máquina pública do  "GDF", o jargão local. Isso porque é no viés político que o crescimento  se explica. Agnelo, com o PMDB na chapa, possui treze partidos na base,  que vão desde os tradicionais aliados PCdoB e PSB até a "direita" que  ele tanto combate, caso do PTB e do PP. Até o rival Democratas tem o  comando de uma administração regional. 
E  é justamente para abrigar todo esse mosaico que ele ampliou seus  espaços. Com isso, só tem a ganhar. O exemplo mais vistoso disso é que  consegue impedir que qualquer pedido de investigação contra si avance na  Câmara Legislativa, onde apenas três dos 24 deputados fazem oposição. E  a omissão legislativa quanto à gestão, garante na cidade evidente piora  da situação da segurança, limpeza pública e saúde. Essa maioria folgada  também o ajuda a acomodar os focos de crise que surgem. Já foram sete  substituições no primeiro escalão.
Até  o presidente do Banco de Brasília foi substituído. Saiu Edvaldo  Magalhães, funcionário de carreira da Caixa Econômica Federal, para a  entrada do ex-funcionário do Banco do Brasil Jacques Pena, ligado ao  ex-ministro José Dirceu. Dias depois da troca Dirceu virou voz ativa na  defesa de Agnelo.
Ocorre  que essa ampla base de apoio, se por um lado lhe garante blindagem, por  outro tem incomodado tanto a base petista do Distrito Federal quanto  antigos aliados. O PDT já se declarou independente e o PSB, cujo espaço  foi diminuído, já ensaia voo solo em 2014, com o senador Rodrigo  Rollemberg (DF).
Os  sindicatos já declararam guerra. "Nós petistas ainda não vimos o  governo do PT. Todo mundo aqui é governo, menos quem construiu o  partido", afirmou ao Valor Marli Rodrigues, diretora do sindicato dos  servidores da saúde. Sua crítica se dirige à política de terceirização  do setor. Na greve de julho, o governador determinou o corte de ponto  dos faltosos. "O governador usou o sindicato para se eleger e agora se  volta contra ele", conclui. Queixa semelhante tem os sindicatos de  professores e policiais civis.
Já  se fala, sob reserva, em possível dissidência interna petista se as  denúncias contra Agnelo ganharem corpo ou mesmo se o inquérito que corre  no Superior Tribunal de Justiça (STJ) ganhar força. Ele é investigado  por irregularidades no período em que era ministro do Esporte.
A  revolta se dá principalmente pelo fato de Agnelo ter eleito como  prioridade os eventos esportivos que Brasília sediará, como a Copa das  Confederações (2013), a Copa do Mundo (2014), e a Copa América (2015),  além de, eventualmente, algum jogo da Olimpíada do Rio em 2016. Tanto  que o principal projeto aprovado na Câmara Legislativa foi o que  reestrutura a organização administrativa e financeira da Companhia  Imobiliária (Terracap). O objetivo é capitalizá-la e transformá-la numa  agência de desenvolvimento. Será a responsável por todas as obras no  vazio imobiliário do entorno do Estádio Nacional.
 Fonte: Valor Econômico 
Blog Rádio Corredor por Odir Ribeiro