Pietschmann virou Pitiman para se identificar com o povão.
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| LUIZ PIETSCHMANN |
O deputado federal Luiz Carlos Pitiman (PMDB), que tem por sobrenome de batismo Pietschmann, finalmente ocupou a Tribuna da Câmara dos Deputados nesta sexta-feira 16 para falar no horário destinado ao Grande Expediente. Pelo tom de voz, viu-se que mantém sua mágoa por ter sido demitido da Secretaria de Obras do Governo do Distrito Federal. Ele não engoliu em seco aquele episódio. E o rancor foi notadado particularmente quando atacou, com a precisão de um cirurgião que faz uso do bisturi, a Terracap.
Pitiman (ele adotou o sobrenome assim, aportuguesado, para facilitar a identidade com o seu eleitorado) discursou para um plenário vazio. Afinal, as sessões de sexta-feira invariavelmente não têm quórum, pois os parlamentares continuam fazendo de Brasília a cidade do seu seu ganha pão.
Chegam na terça e regressam na quinta para seus Estados de origem.
Mas o deputado, mesmo com falhas em seu pronunciamento, enfim falou.
Pitiman lembrou que vem de uma família humilde do Paraná. Chegou jovem a Brasília para servir ao Exército e apaixonou-se pela cidade. Na Capital, disse, constituiu família e construiu uma vida profissional e empresarial.
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| LUIZ PIETSCHMANN |
Porém, por um lapso de memória, por uma aparente e passageira amnésia, o deputado omitiu parte do passado dele. Até meados de junho do ano passado minha história pouco ou quase nada tinha a ver com a política. Salvo a participação no diretório regional do PMDB, minhas ocupações eram de cunho empresarial e também no âmbito administrativo do GDF, como presidente da Novacap... leu Pitiman em um dos trechos do seu discurso.
Pitiman deve ter razões de sobra para não abrir uma velha ferida, quando era chefe da Casa Civil do governador do Acre Eduardo Pinto, assassinado ainda no governo Collor, às vésperas de depor na CPI que investigava fraudes em obras (obras...) de saneamento. Um crime até hoje envolto em mistério.
Pode ser que, na cabeça dele, isso seja passado. Para o deputado, o importante é que, embora agora afastado, ele virou amigo do hoje vice-governador Tadeu Filippelli. Convidado, filiou-se ao PMDB e aceitou disputar (e vencer com uma expressiva votação) uma cadeira na Câmara dos Deputados.
Dentro da aliança do Novo Caminho, foi feito secretário de Obras. Até que Agnelo Queiroz começou a tirar das mãos dele o poder que então detinha. A Terracap saiu fortalecida. Injuriado, Pitiman provocou a própria demissão.
Na Secretaria de Obras do governo de Agnelo Queiroz, o ex-deputado diz que enfrentou divergências que se agigantavam a cada dia. Tentou mesmo superá-las, garante, mas sem êxito. A gota dágua foi uma mudança que atribuiu à Terracap a construção do Estádio Nacional de Brasília, uma obra faraônica orçada entre 900 milhões e 1 bilhão de reais.
Pitiman, claro, não gostou. E forçou a saída dele.
O deputado denunciou em seu pronunciamento que alguns dos servidores da Terracap ganham salário de até 45 mil reais. Mas já ganhavam quando Pitiman era secretário. Muitos deles vão receber 1 milhão 300 mil reais de indenização, fruto de processos que já existiam quando Pitiman era secretário. A União detém 49% das ações da Terracap. A presidente Dilma Rousseff tem a caneta para acabar com os abusos, mas não sabe disso. Foi o que deixou claro Luiz Carlos Pitiman.
Na véspera do discurso, Pitiman reuniu a nata do PMDB em um jantar na casa dele. O vice-presidente Michel Temer e o vice-governador Tadeu Filippelli não foram. Talvez porque não tenham memória curta. Ou talvez por não sofrerem, como o deputado, de amnésia.
Fonte: Publicado em 16 de Setembro de 2011 por José Seabra


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