ÉPOCA acompanhava o candidato tucano Aécio Neves pelo Nordeste no momento em que chegou a notícia da morte do amigo e rival Eduardo Campos
Acompanhado por assessores, Aécio caminha visivelmente abatido no Aeroporto Internacional de Natal (RN), após saber da morte de Eduardo Campos
Eram 12h26. Havíamos acabado de pousar em Natal. Falávamos do
desempenho e das possibilidades de Eduardo Campos na campanha
presidencial, em um avião semelhante àquele em que o socialista ainda
voava quando saímos de Teresina. O senador José Agripino (DEM/RN) ligou
seu celular, viu uma mensagem de seu filho e, com os olhos arregalados,
disse: “Acho que o avião do Eduardo Campos caiu”. A mais completa
perplexidade e o mais profundo silêncio tomaram conta do jato. Os
semblantes eram de quem não acreditava no que fora dito. Aécio
levantou-se segundos depois e, incrédulo, pediu que um assessor ligasse
para o governador Geraldo Alckmin - que confirmou a notícia. “Que
tragédia, que tragédia. Ele tinha uma família linda. Coitada da Renata”,
dizia Aécio, completamente atordoado.
Assim como Campos, Aécio Neves cruzava o país nas últimas semanas em busca de
votos, em um jatinho. Quando ligou seu celular, já havia dezenas de
ligações de Letícia, sua mulher, e de Gabriela, sua filha mais velha.
Ele respondeu às duas, que estavam aos prantos no telefone. Parecia um
misto de tristeza, pela morte de um político a quem Aécio tinha como amigo, e que elas haviam conhecido, e da sensação de que poderia ter
sido Aécio, que tem tido uma rotina tão parecida com a que Eduardo
Campos vinha tendo.
Na van, que fez o traslado entre a pista e o aeroporto, Aécio viu pelo
celular uma notícia que chegou a lhe dar esperanças de que as
informações estivessem desencontradas e que Campos estivesse vivo. Um
site de notícias afirmava que, até aquele momento, havia a confirmação
de dois mortos e dez feridos no acidente aéreo. Aécio fez mais alguns
telefonemas. Alguns diziam que Renata Campos, a mulher de Eduardo, e o
filho mais novo, Miguel, também estavam no voo. Outros interlocutores
chegaram a afirmar que a candidata a vice na chapa socialista, a
ex-senadora Marina Silva, que vinha o acompanhando em vários
compromissos pelo país, também estava no avião. Minutos depois chegou a
confirmação de que Campos e assessores estavam no jato - e que haviam
mesmo morrido.
“Era um moleque. Mais novo que eu. Acabou de fazer 49 anos”, dizia
Aécio. Ele conhecia Campos desde os tempos em que seus avôs, Tancredo
Neves e Miguel Arraes, rivalizavam no MDB. Trocaram mensagens, pela
última vez, no domingo. Campos enviou um torpedo felicitando Aécio pela
saída de seu filho Bernardo do hospital. Ele nasceu prematuro e estava
internado há dois meses no Rio de Janeiro. Aécio respondeu
cumprimentando-o pelo Dia dos Pais e por seu aniversário que, por
coincidência, caíram no mesmo dia em 2014.
Ainda muito assustado, Aécio dizia que Campos tinha filhos
maravilhosos. Estivera com eles, pela última vez, em fevereiro, quando
foi com Letícia à casa de Campos, em Recife, após o nascimento de
Miguel, o filho mais novo. Já a sós com Campos, a última conversa longa
foi em abril, num flat em São Paulo. Falaram sobre o cenário eleitoral e
sobre parcerias em palanques que poderiam fazer pelo país. “Eu e ele
achávamos que o Brasil precisava encerrar o ciclo atual. Sempre
estimulei a candidatura dele e nós sabíamos que, de nós dois, quem
ganhasse precisaria do outro para governar”, disse Aécio. Ele
considerava Campos um grande contador de histórias e um homem apaixonado
pela família. “Renata estava sempre presente em tudo dele. Era um cara
do bem e sempre com a família”, disse Aécio.
Logo que o avião pousou em São Paulo, para onde Aécio definiu que a
comitiva iria após o cancelamento da agenda de campanha, Aécio fez o
sinal da cruz e leu emocionado uma mensagem que acabara de receber do
padre Fábio de Melo. Ele pedia que Deus sempre lhe guiasse e recomendava
que ele se refugiasse por ao menos dois dias junto das pessoas que mais
ama.
Fonte: Época - Leopoldo Mateus de Natal.
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