Um policial foi atingido por uma flecha na perna; duas pessoas foram detidas.
A dezesseis dias da Copa do Mundo, uma manifestação contra os jogos
nesta terça-feira (27),em Brasília, reuniu cerca de 2,5 mil pessoas,
parou o trânsito na capital federal e resultou em confronto direto de
índios e sem-teto contra policiais. Bombas de gás lacrimogêneo foram
lançadas e uma flecha atingiu a perna de um policial montado em um
cavalo. Duas pessoas foram presas.
Organizada pelo Comitê Popular da Copa DF, Movimento dos Trabalhadores
Sem-Teto (MTST) e Juntos, a manifestação começou de forma pacífica na
rodoviária da cidade com pautas que envolviam temas como moradia,
justiça, saúde, educação e transporte.
Lá, os líderes do movimento improvisaram um tribunal, no qual a Fifa
foi julgada e condenada pelos crimes cometidos no Brasil, segundo
eles.
Durante o julgamento, um grupo de indígenas que estava na Esplanada dos
Ministérios se juntou ao movimento na rodoviária e endossou o coro das
palavras de ordem entoadas contra o Mundial no País. Ao som de "o
dinheiro da Copa não é para mim, eu vou para a rua sim" e "Copa sem
povo, estou na rua de novo", o grupo seguiu a pé rumo ao estádio Mané
Garrincha por volta das 17 horas, local onde está exposta a taça da Copa
do Mundo.
Por causa do grande fluxo de pessoas, a polícia militar do DF fechou
todas as seis faixas da via N1, que dá acesso ao estádio e Palácio do
Buriti, o que causou muita confusão entre os carros. O trânsito ficou
parado no trecho que vai da Esplanada até a Torre de Televisão por cerca
de uma hora. Durante todo o trajeto, os movimentos sociais exigiram a
expulsão da Fifa do Brasil.
Flechada e bombas. A polícia militar acompanhou os manifestantes
durante todo o caminho. Cerca de 100 metros antes da entrada do estádio,
15 homens da cavalaria da Tropa de Choque fizeram um cordão de
isolamento para impedir a chegada do grupo ao local. À frente dos
protestos, os indígenas não se intimidaram e partiram para cima dos
policiais, atirando pedaços de pau e flechas. Um cabo da PM foi atingido
por uma flechada na perna e reagiu com bombas de gás.
Acuados, os manifestantes se dispersaram pelo gramado que dá acesso ao
estacionamento do estádio. Preocupados com a segurança da taça, os
organizadores do tour optaram por retirar o troféu do Mané Garrincha e
cancelar as visitas agendadas para o restante do dia. Segundo a empresa
responsável pelo evento, a visitação continuará amanhã.
Irritados pela ação policial, alguns manifestantes esconderam os rostos
com camisas e passaram a atirar pedras contra os policias do batalhão
de choque, que respondeu com mais bombas de gás e efeito moral. Uma
viatura dos bombeiros, que fazia o socorro ao policial ferido, foi alvo
da ira dos presentes, que subiram no veículo e jogaram pedras e pedaços
de madeira que encontravam pelo caminho.
De acordo com o coronel Jailson Ferreira Braz, responsável pela
operação no local, os policiais reagiram após terem sido agredidos.
"Fizemos o necessário para garantir o restabelecimento da ordem. O
protesto seguia de forma pacífica até que um dos nossos cabos foi
alvejado na perna. Revidamos dentro do uso progressivo da força",
explicou. A PM informou que 500 homens e cerca de 80 viaturas foram
utilizadas para garantir a segurança da população. Durante a operação,
duas pessoas foram presas.
O índio Lindomar Terena questiona a versão dada pela polícia: "Só
queríamos chegar perto da taça e fazer um ato simbólico com nossos
rituais. Essa é uma justificativa que encontraram para legitimar o uso
da força e brutalidade contra todos nós", rebateu. A cidade deverá
passar por novos momentos de tensão na sexta-feira, 30, quando outro
protesto contra a Copa está marcado pela internet e já conta com quase
três mil confirmados.
Fonte: Jorge Macedo - O Estado de S. Paulo.
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