Em entrevista exclusiva ao blog, a deputada distrital Liliane Roriz (PRTB) comenta sobre sua atuação na Câmara Legislativa, desabafa sobre questões polêmicas, coloca-se a favor da unidade dentro da oposição ao fazer duras críticas ao governo do DF: e justifica: “Quem é filha de quem eu sou tem o dobro de responsabilidade”, resume.
Blog do Sombra: Praticamente na reta final do seu mandato, o
que mudou desde que a senhora tomou posse como deputada distrital até os
dias de hoje?
Liliane Roriz: Mudou muita coisa. Entrei na Câmara sem saber
direito o que encontraria pela frente. Sabia que muitos colegas
mantinham um pré-conceito contra mim, por eu ser filha de Joaquim Roriz.
Eu era também uma das únicas, se não a única, opositora declarada ao
governo. Veja só: eu já era novata, mulher, relativamente nova e só por
isso tinha receio da forma com que os petistas me tratariam. Morria de
medo do deputado Chico Vigilante, pela imagem que ele sempre passou.
Hoje eu dou boas risadas disso tudo, mesmo porque mantenho uma ótima
relação com todos os deputados, até mesmo com os petistas. O deputado
Chico Vigilante sempre me respeitou e construímos uma boa relação de
consideração entre nós. Aprendi a separar bem as coisas.
Blog do Sombra: Muitos comentam sobre sua postura independente com relação ao seu pai. Isso ajuda ou dificulta o seu trabalho?
Liliane Roriz: Vivi e convivi com a política desde que nasci,
graças ao meu pai. Acho que foi dele que puxei essa vontade de querer
trabalhar pelas cidades e ajudar a quem mais precisa. Como eram muitos
candidatos proporcionais e fiz uma campanha simples, assim que fui
eleita ele me chamou e me disse que agora eu tinha que arregaçar as
mangas e mostrar quem era a Liliane, e não a filha do Roriz. No início,
não entendi. Mas hoje vejo como essa atitude me ajudou para que eu
focasse no que eu realmente acredito. Mas é claro que com o privilégio
de ter o pai que eu tenho, vira e mexe eu tento consulta-lo sobre
algumas questões. Ele sempre reluta e se faz de difícil, mas no fim das
contas acaba me aconselhando.
Blog do Sombra: A senhora está satisfeita com a Câmara Legislativa e com sua atuação parlamentar?
Liliane Roriz: Sou empresária e por isso tenho a chata mania
de cobrar muito de mim e de quem está comigo. Nunca estou satisfeita. Se
está bom, podemos melhorar. Às vezes isso incomoda, mas não ligo. Sei
que é para o melhor resultado do trabalho. Hoje ouço coisas que não
consigo acreditar se fosse tempos atrás. Dizem que eu estou sendo uma
boa surpresa na Câmara Distrital. Isso me deixa muito feliz, mas não me
envaidece. Costumo sempre dizer que quem é filha de quem eu sou tem o
dobro de responsabilidade. E levo esse lema a ferro e fogo para o meu
mandato. Sei que não posso e não tenho o direito de fazer feio. Minha
filha, que deveria reclamar, e as pessoas mais próximas, me apoiam
muito. Quando você está em paz em casa, fica com a cabeça livre para
focar no trabalho.
Blog do Sombra: Qual é a maior vitória e a maior derrota de seu mandato?
Liliane Roriz: Tivemos grandes vitórias, como a lei que fiz
para conceder o desconto do IPTU, a lei também de minha autoria que
manteve a homenagem a Mané Garrincha no estádio... Recentemente, foi a
lei que aprovamos e que já está em vigor que escancara a caixa preta da
saúde pública e obriga o governo a divulgar na internet tudo sobre a
rede, como remédios em estoque, a fila das cirurgias, os médicos de
plantão por especialidade em cada unidade, enfim... A maior derrota, sem
dúvida, foi a aprovação da transferência do museu da república para a
área federal. Acho que nossos artistas, nossa cultura e nossa cidade
perderão muito com essa mudança.
Blog do Sombra: O atual governo possui uma das maiores bases de
sustentação da história do DF. Para a democracia, isso é saudável?
Liliane Roriz: Olha, democracia é o poder do povo. Se o povo
quis eleger um governo do PT e deputados que mantém afinidade com essa
proposta, temos que respeitar. O que não acho correto é que, mesmo com a
população reclamando, criticando e as pesquisas apontando o Agnelo como
o segundo pior governador do país, a base permaneça intacta. A deputada
Eliana Pedrosa declarou publicamente que votou no Agnelo, mas depois
viu que tinha algo de errado com essa gestão e pulou fora. De lá pra cá,
até que partidos desacreditaram nesse governo, quando achávamos que
mais gente sairia da base, mas na prática tudo ficou como era. Em vez de
deixar a base, os deputados deixavam os partidos. Isso sim eu acho
lamentável, porque um deputado tem que dar voz à vontade da população e
não garantir palanque para governantes. Agradeço a cada dia por ser uma
das únicas opositoras do governo Agnelo e de não fazer isso da boca pra
fora, mas por acreditar. Tenho muito orgulho de não fazer parte desta
base e de não ter amarras com esta gestão.
Blog do Sombra: Por falar nisso, a senhora foi a deputada
distrital que mais se destacou na luta contra a aprovação do Plano de
Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB) e a Lei de Uso e
Ocupação do Solo (LUOS) na CLDF. Por que resolveu comprar essas brigas?
Liliane Roriz: Sou nascida em Luziânia, que faz parte da
região metropolitana do DF, mas mudei para Brasília com apenas um ano de
vida e escrevi toda a minha história aqui, brincando nas superquadras,
no Parque da Cidade... Não sou uma forasteira. Quando comecei a ouvir
rumores sobre o PPCUB e a LUOS, fiquei revoltada. Lembra-se daquele papo
de construir a 901 Norte e encher de prédios uma área que hoje é limpa e
ampla? Pois é, desde lá eu já comprei essa briga na Câmara. Achava
aquilo um absurdo, um desrespeito ao plano de Lúcio Costa. Achava que
minhas críticas tivessem surtido efeito, porque o governo recuou. Depois
de um tempo, vi que a intenção do governo era ainda pior: o GDF incluiu
outras propostas absurdas nesse PPCUB. Imagina só um Eixo Monumental
todo loteado, cheio de construções? E a margem do lago toda cheia de
hotéis? O Setor Hospitalar, que já não tem onde parar o carro, com
prédios mais altos e mais salas comerciais... Ele queria vender a cidade
a troco do caos. Por isso eu digo, não é que eu tenha comprado a briga:
é o GDF que mais uma vez trabalha sem ouvir a população. Eu só
aproveitei o meu mandato para dar voz ao coro que estava nas ruas e
reclamava assim como eu dessas propostas absurdas. Isso não é mérito da
deputada Liliane, é mérito de quem arregaçou as mangas e lutou contra o
PPCUB. Graças a tanta gente, onde incluo estudiosos, especialistas,
lideranças, anônimos, muitas pessoas que até tinham receio de se
aproximar de mim, a revolta gerou um movimento que assustou o governo e
os deputados. Vencemos a batalha por enquanto, mas só podemos sossegar
quando esses dois projetos forem retirados de vez da pauta.
Blog do Sombra: A senhora será candidata a quê?
Liliane Roriz: Eu quero ser candidata à reeleição como
distrital. Mas sei que a minha vontade é o que menos vale nesse jogo
político. Faço parte de um grupo político que quer o melhor para o DF.
Precisamos livrar Brasília desse caos. Por isso, desde o início, tenho
procurado me preparar para qualquer cenário que venha a surgir. Temos
conversado com várias lideranças e acredito que só venceremos se
estivermos todos juntos. Eu estou disposta a isso. Quero me colocar de
forma com que eu seja útil. Mas a possibilidade de continuar trabalhando
por nossas cidades, aqui na Câmara Distrital, é o que mais me atrai.
Blog do Sombra: Sua irmã Jaqueline Roriz e seu cunhado Manoel
Neto acabaram de ser condenados em primeira instância no escândalo que
ficou conhecido como a Caixa de Pandora. Isso pode atrapalhar o seu
projeto?
Liliane Roriz: Desde que minha irmã passou por essa situação,
foi um sofrimento grande lá em casa. Quando eu passava na rua e alguém
me hostilizava por me confundir com a Jaqueline, eu imaginava o tanto
que deveria estar sendo difícil para ela. Vi pessoas que eram grudadas
com ela simplesmente desaparecerem, falarem mal, virarem as costas, isso
sem nem ter dado tempo de ela se defender na Justiça. Isso dói muito.
Mesmo assim, desde o início, como deputada, decidi subir na tribuna e
exigir publicamente explicações dela. Esse era o meu dever como
parlamentar, e ela entendeu. Acredito que quando decidimos ingressar na
vida pública, decidimos também que nossas vidas seriam públicas e
teríamos que passar pelo crivo da opinião pública. E isso implica em
tudo e, por mais difícil que seja, tem que se cumprir. Mas, como irmã,
que tem sido um grande sofrimento, isso eu não vou negar.
Blog do Sombra: Nessa mesma linha, depois que deixou o PSD, a
senhora retornou ao seu partido de origem, o PRTB, que hoje é comandado
no DF por uma figura conhecida no Brasil, que é o ex-senador Luiz
Estevão. A senhora não teme ter a imagem vinculada a do primeiro senador
cassado da história do Brasil?
Liliane Roriz: Poucos como Luiz Estevão estiveram sempre ao
lado de minha família, não só na vitória, mas principalmente nas
turbulências, que é quando todos somem. Na hora do poder, é fácil ter
amigos. Esse tipo de postura de lealdade a gente não esquece nunca. Além
do que, quem o conhece sabe como o Luiz pode contribuir para a cidade.
Se ele deve algo para a Justiça, está pagando de acordo com que os
magistrados determinaram. Eu sei separar as coisas e os problemas
jurídicos dele independem da grande capacidade de atuação política. Só
para você ter ideia, mesmo após 20 anos fora da Câmara Legislativa,
quando ele foi eleito o distrital mais votado da história do DF, Luiz
ainda é lembrado como o opositor mais combativo do antigo governo do PT,
que acabou sendo derrotado na tentativa de reeleição. Podem falar o que
for, mas isso ninguém tira dele.
Blog do Sombra: A atuação do STF com relação ao Mensalão
repercutiu de maneira muito emblemática na sociedade. A senhora acredita
que isso pode resultar nas urnas em 2014?
Liliane Roriz: O processo do Mensalão serviu para mostrar que o
PT não é esse reduto de santos, como eles vendiam. Tinham um sucessor
preparado para substituir o Lula, que era o José Dirceu, que está preso
hoje acusado de chefiar uma quadrilha. Não posso e não vou tripudiar,
porque sei bem como é complicado você colocar tudo num mesmo caldeirão.
Mas também não dá para dizer que no PT só tem santo, o que não é
verdade. Conheço muitos petistas que merecem respeito, outros nem tanto.
É assim em todo lugar. Com a esperada aprovação da reforma política,
acredito que o processo eleitoral vai sofrer mudanças radicais, que vai,
se não acabar, intimidar a força do poder econômico, como foi no caso
do mensalão. Espero que nas próximas eleições as pessoas concentrem-se
em propostas, no trabalho de cada um. Se for assim, pela nossa
experiência aqui no DF, o PT sairá derrotado, já que temos a certeza de
como é péssima a gestão petista. O PT sabe ser oposição, mas não se dá
bem como gestor. Esse sentimento está refletido nas pesquisas de
opinião, onde Agnelo aparece na lanterninha em quase todos os cenários,
além da grande rejeição que possui. Espero que a oposição esteja unida e
essa revolta da população contra o atual governo tire nossa cidade
desse coma induzido que ela está.
Fonte: Edson Sombra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário