Conselho
Especial do Tribunal de Justiça do DF manda a Câmara prosseguir com o
processo contra o distrital, mas por meio de análise fechada em
plenário. Para especialistas, a decisão pode levar à impunidade do
parlamentar
Raad Massouh no plenário da Câmara: defesa diz que vai recorrer da decisão unânime do TJDFT
Por decisão unânime do Conselho Especial do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), na tarde de ontem, o
processo de cassação por quebra de decoro parlamentar pelo qual o
deputado distrital Raad Massouh (PPL) responde deverá prosseguir na
Câmara Legislativa. A sessão plenária que julgaria o caso foi suspensa,
em 10 de setembro, devido a uma liminar deferida pela Justiça em favor
do parlamentar. Com a posição dos desembargadores, a sessão legislativa
que vai julgar o futuro político do distrital pode ocorrer assim que o
tribunal comunicar a decisão do conselho ao Legislativo. No mesmo
julgamento, os magistrados concederam a Raad o direito de que a votação
seja secreta, embora a Lei Orgânica do DF e o Regimento Interno da
Câmara permitam a análise aberta para esses casos.
Em 2010, a distrital Eurides Brito conseguiu o mesmo recurso na
Justiça. A sessão em plenário que analisou o pedido de cassação contra a
deputada foi secreta. Mesmo assim, Eurides teve o mandato cassado. Já o
deputado federal Natan Donadon (sem partido-RO) se salvou em votação
fechada na Câmara dos Deputados. Ele cumpre pena por corrupção na
Papuda.
Raad é alvo de denúncia por supostamente ter desviado recursos de uma
emenda, em 2010, destinada a um evento rural em Sobradinho. Ele
conseguiu na Justiça a suspensão da análise do caso no plenário da
Câmara às vésperas da sessão marcada pela Mesa Diretora. Ontem, o mérito
do mandado de segurança com o qual a defesa dele entrou no TJDFT foi
analisado pelo Conselho Especial, um colegiado que reúne 17
desembargadores.
No mandado, os advogados de Raad argumentaram que o relatório produzido
pela Comissão de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Legislativa, que
pede a cassação do distrital, teria extrapolado o objetivo da
investigação parlamentar. Eles também pediram o mesmo tratamento
concedido pela Casa a Rôney Nemer (PMDB), Aylton Gomes (PR) e Benedito
Domingos (PP), que tiveram processos semelhantes paralisados até decisão
colegiada da Justiça. Por último, solicitaram a votação secreta da
sessão.
O advogado de Raad, Rodrigo Nazário, afirmou que vai recorrer da
decisão de ontem. Para ele, a Câmara não pode prosseguir com o
julgamento em plenário até a publicação do acórdão pelo Diário de
Justiça. “Não concordamos com a decisão por entender que Raad não tem o
mesmo tratamento dado a outros parlamentares”, disse. Para o assessor
Cível e de Constitucionalidade do Ministério Público do DF, promotor
Antônio Suxberger, a Câmara deve aguardar a comunicação da decisão para
prosseguir com o julgamento de Raad, o que não dependeria da publicação
do acórdão, mas simplesmente de uma comunicação oficial do Judiciário ao
Legislativo.
Entre deputados, a avaliação é de que o voto secreto é a única chance
de salvação do mandato de Raad. Já havia um clima favorável à cassação,
mas parlamentares apostam que, com o sigilo da posição de cada
distrital, Raad e seus aliados terão possibilidade de fazer acordos
políticos que o livrem da pena máxima.
Autonomia
Para o distrital Chico Leite (PT), autor da lei que prevê a votação
aberta no Legislativo local, embora a Constituição Federal garanta
sessão secreta para casos de cassação parlamentar, o DF tem autonomia
para instituir e seguir a norma local. “Respeito o entendimento dos
desembargadores. Mas minha opinião é como a dos ministros do Supremo
Tribunal Federal Marco Aurélio Mello e Celso de Melo, para quem o
princípio federativo supera a norma meramente formal da Constituição e
permite a votação aberta no DF”, diz.
O secretário-geral da organização não governamental (ONG) Contas
Abertas, Gil Castello Branco, também lamenta a decisão e considera que a
“população perde ao desconhecer o posicionamento de seus
representantes”. “Não tem sentido, depois de todas as manifestações de
junho (da população), manter escondidas decisões tão importantes para a
sociedade. É nessas situações que acontecem os conchavos políticos, que
já absolveram parlamentares com a culpa evidente”, opina. Para ele, é
necessário mudanças na lei. “O anonimato favorece a impunidade, pois
muitos parlamentares inescrupulosos pensam que o mandato cassado hoje
pode ser o dele amanhã”, compara.
Para saber mais
A favor da transparência
O Correio Braziliense defende a campanha pelo fim do voto secreto em
todos os parlamentos. Além de reportagens sobre o assunto, o jornal
chamou a população para o debate lançando o espaço de discussão virtual
em redes sociais com a hastag #fimdovotosecreto. Um hotsite do Correio
acompanha votações e decisões relacionadas ao tema. Para conferir, é só
acessar www.correiobraziliense.com.br/votosecreto.
A proposta de emenda constitucional (PEC nº 43/2013), que prevê o fim
do voto secreto, foi aprovada pela Câmara e ainda aguarda análise dos
senadores.
Análise da notícia Escondidos no sigilo
» ANA MARIA CAMPOS
Eventual votação secreta no julgamento do deputado Raad Massouh (PPL)
não poderia ocorrer em momento mais nebuloso. Há dois meses, o próprio
distrital procurou a direção geral da Polícia Civil e o Ministério
Público do DF (MPDFT) para denunciar uma armação. O deputado relatou
suposta extorsão para que colegas votem a favor de sua absolvição. As
negociações relacionam cifras milionárias. Nas ocorrências, Raad
entregou gravações que fez de conversas com um interlocutor. Este se
apresentava como intermediador da compra dos votos desses parlamentares.
A investigação está em curso e é acompanhada pelo Conselho Especial do
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), uma
vez que os alvos têm foro especial para julgamento de eventual crime de
corrupção. Com uma suspeita tão grave, torna-se imprescindível que a
população conheça os reais motivos que levarão os distritais a tomar uma
decisão pela condenação ou salvação política de Raad. Quem votar sim ou
não deve ter um argumento a apresentar à sociedade.
Não é a primeira vez que a Câmara Legislativa surge envolvida em
negociações para compra de votos. Ao contrário. Houve casos rumorosos em
todas as legislaturas. Uma das medidas adotadas pelos distritais mais
sintonizadas com a transparência foi justamente a aprovação do projeto
que instituiu, em 2006, o voto aberto para todas as deliberações na
Casa. Lamentável que nunca tenha sido colocada em prática quando está
relacionada ao destino dos próprios distritais.
Cronologia
2010
Raad virou alvo de investigação em outubro. Às vésperas da eleição, a
Polícia Civil recebeu denúncia sobre supostas irregularidades na
aplicação de recursos públicos em uma festa rural de Sobradinho. O
dinheiro para a promoção do evento — R$ 100 mil — foi liberado após emenda aprovada pela
Câmara Legislativa, de autoria do próprio Raad. A festa, cujo projeto
básico era para acontecer em dois dias, com cinco atrações e para um
público de 10 mil pessoas, ocorreu em apenas um dia e para cerca de 100
espectadores, com a apresentação de apenas duas bandas.
2011
Em julho, a Polícia Civil deflagrou a Operação Bragi II. O desfecho do
inquérito foi o indiciamento de Raad e mais 36 pessoas por delitos como
desrespeito à Lei de Licitações, peculato e lavagem de dinheiro. O
Ministério Público também investigou a denúncia contra o deputado.
2012
Em novembro de 2012, foi deflagrada a Operação Mangona (nome que faz
alusão a uma espécie de tubarão). Nessa fase, a Justiça autorizou a
quebra de sigilos fiscal, bancário e telefônico dos envolvidos. A
Procuradoria-Geral de Justiça do DF também denunciou Raad e nove pessoas
pelos mesmos crimes do indiciamento policial. Por ter foro
privilegiado, o distrital terá o caso analisado pelo Conselho Especial
do TJDFT. No fim do ano passado, a Câmara Legislativa recebeu o pedido
de abertura de processo por quebra de decoro contra o distrital e a Mesa
encaminhou o caso à Corregedoria da Casa.
2013
Em abril deste ano, a Corregedoria da Câmara Legislativa votou pela
abertura de procedimento por parte da Comissão de Ética. O colegiado
aprovou o relatório do corregedor, deputado Patrício (PT), em maio, e
Joe Valle (PSB) foi sorteado como relator. O parecer de Joe, em favor da
cassação do colega, passou pelo Conselho de Ética. O caso estava pronto
para ir a plenário, mas, em 10 de setembro, Raad conseguiu suspender,
por meio de liminar judicial, a análise do seu caso em plenário. Ontem, o
TJDFT mandou a Câmara retomar o assunto.
Fonte: Arthur Paganini - Correio Braziliense.
Prezado,
ResponderExcluirO “Adote um distrital” é um projeto social de voluntários cuja principal função é exercer o controle social sobre o mandato parlamentar local. A “tecnologia” de mobilização social para manifestação na rua não é o nosso foco e expertise. Lançamos o desafio para a sociedade, ela decide se vai ou não. Existem questões de horário, dia da semana, cobertura de mídia, articulação com outras redes de mobilização social etc., que, como falei, não se constitui nosso interesse principal. Uma coisa é certa, dia-após-dia, o controle social se qualifica e mais pessoas se interessam e conhecem o tema. Estamos aqui para auxiliá-los!
E assim a vida dos políticos ficha suja se tornará mais dura nas próximas eleições!!!
Grande abraço,
Emerson