O
cerco está se fechando, se enfrentar a Comissão de Ética pode ser
cassado, se renunciar pode ser tragado pela Lei da Ficha Limpa. Que
caminho seguirá Raad?
O pesadelo do deputado distrital Raad Mtanios Massouh, parece se encaminhar para o ocaso.
Raad que já foi corregedor em um processo, o de cassação do ex-deputado
Pedro Passos Filho, surfou na desgraça do colega. Naquela época as
redes sociais, a mídia eletrônica, incluídos os blogs, estavam
engatinhando. O clamor popular, embora existente, se fazia presente com o
barulho nas ruas. Assim, Pedro Passos cedeu e renunciou antes de ser
julgado pelo plenário da Câmara Legislativa. Raad se viu vitorioso, já
Pedro Passos até hoje não foi julgado pelo judiciário das acusações dos
crimes a ele atribuídos e que o levaram à renúncia.
Agora os tempos são outros, a informação chega à população quase de
forma instantânea, a cobrança agora é direta, os políticos sabem que
devem dar satisfação e são instados diretamente pela população via redes
sociais. Poucos ainda vão aos gabinetes protestar, mais fácil é mandar
uma mensagem pelo twitter, pelo facebook, espalhar tudo e aguardar o
posicionamento que será lido por todos.
O decoro parlamentar é fiscalizado de forma contundente, e em Brasília,
apesar do número de escândalos, a população não se acostumou a ver seus
políticos em páginas policiais, não se admitirá outro escândalo seja de
que proporção for, cobra-se com mais veemência que os políticos sejam
honestos.
No caso de Raad, não interessa à população ele dizer ou parecer ser
honesto. Se os órgãos fiscalizadores judicializaram o fato, alguma coisa
aconteceu, e cabe ao acusado efetivamente demonstrar sua inocência.
Contudo, não é o que se tem visto.
Que existia uma investigação envolvendo o deputado Raad e uma emenda
parlamentar de sua autoria, todos já sabiam. Que havia acusações de que
Raad estaria envolvido em um suposto esquema de apropriação indébita de
parte dos salários de seus servidores da Câmara Legislativa, também não
era novidade, a novidade foi a representação ético disciplinar corajosa
de um grupo de jovens da ONG Adote um Distrital, assinada por Diego
Ramalho Freitas, que emparedou o que eles denominam de “Casa do
Espanto”. O espanto foi tamanho, que o representado saiu esbravejando
pelos quatro cantos que era inocente e que estava tranquilo, não havia
nada com que se preocupar.
Ledo engano, “os meninos”, como são chamados carinhosamente os
integrantes do Adote um Distrital, cresceram. Demonstraram que sabem
dizer o que que querem e que para derrota-los será preciso muita luta. A
representação que mereceu o desdém de Raad e o aplauso sincero da
população, já passou por duas etapas, a verificação da admissibilidade e
o crivo da Corregedoria da Câmara Legislativa.
Enquanto a representação esteve na Corregedoria, “o deputado Patrício
sofreu todo tipo de pressão, boatos de que havia um acerto financeiro,
que o PT cumpriria um suposto compromisso firmado quando da eleição da
presidência da casa, dossiês, bisbilhotagem em sua vida pessoal e tudo o
mais que se considera abominável.” Patrício dizia que só cumpriria o
que manda a lei, nada mais. Em momento algum se viu o deputado Patrício
se defender ou surfar na onda dos outros como fez Raad no processo de
Pedro Passos.
Apresentado o parecer da Corregedoria, a surpresa foi só de Raad,
Patrício agiu de forma técnica, respeitando a Lei, como disse que o
faria.
Já é sabido que a desembargadora Sandra de Santis do TJDFT aceitou a denúncia do Ministério Público contra Raad Massouh.
Mas lá no TJDFT o caso se desenrola de outra forma, Raad terá todas as
chicanas processuais para retardar o julgamento. Já na Câmara
Legislativa o processo é político e o que interessa é a quebra ou não do
decoro.
O deputado representado terá que demonstrar de forma cabal que a
investigação policial complementada pelo Ministério Público carece de
seriedade, que as provas não existem. Não basta apenas dizer que "diante
do que tem por ai seria uma simples tilápia." Sabe-se que a Operação
Mangona já engoliu o tubarão e os golfinhos que gravitavam a sua volta.
Brasília já viu vídeos e gravações de inúmeros atores políticos, as
gravações de Raad estão sob o palio do segredo de justiça, mas quem
conhece a investigação afirma: "São depoimentos contundentes, provas
robustas, revelações de como funcionou o esquema, buscas e apreensões e
gravações feitas com autorização judicial levaram a outras
investigações, tenho certeza que com a comprovação dos fatos levantados o
MP e a Policia Civil auxiliarão no aprimoramento e melhor fiscalização
do uso do dinheiro público na realização de eventos no DF, há suspeita
que parte do dinheiro dessa emenda tenha sido desviado e usado na
campanha política de 2010".
Consta de um dos depoimentos prestados pelo ex-administrador de
Sobradinho, indicado por Raad, que o deputado fazia pressões para
realizar o evento investigado, "se vira, estamos perto das eleições,
você tem que dar um jeito para liberar a verba, eu já prometi esta
verba". A afirmação da “pressão” sofrida pelo servidor foi corroborada
pelo depoimento de outra servidora que se apresentou espontaneamente
para ajudar a elucidar o caso.
“Das escutas autorizadas e da documentação apreendida, outras
investigações já estão em curso, descobriu-se os supostos “sócios” de
Raad.”
A representação dos “meninos” agora aguarda a decisão da Comissão de
Ética e Decoro Parlamentar, presidida pelo deputado Dr. Michel, que da
mesma forma que Patrício, diz que cumprirá a Lei.
Das pressões sofridas por Patrício, acredita-se que o Dr. Michel não
será alvo. O parlamentar é delegado aposentado da Polícia Civil do
Distrito Federal e é tido como avesso ao “mau feito”. “Ninguém acredita
que alguém seja capaz de fazer-lhe uma proposta indecorosa, todos sabem
que o Dr. Michel nunca teve papas na língua e do microfone do plenário é
capaz de dizer horrores àqueles que pelo menos duvidem de sua
integridade”.
Em outra linha de análise, ou para aqueles que possam imaginar que o
Dr. Michel seria beneficiado como algoz de Raad, acredita-se que não. A
base eleitoral é a mesma, Sobradinho, mas Raad foi eleito no mesmo
pleito que Michel e cada um tem seu eleitorado, ou não seriam os dois
eleitos.
A manobra que comenta-se, de sobrestar a representação e que poderá ser
intentada por Raad, é inócua, pois já foi rejeitada anteriormente pela
Corregedoria por não encontrar previsão legal em outros casos.
Raad já perde o jogo por 2 a 0, resta aguardar o próximo resultado, que
será a decisão da Comissão de Ética. Se esperar mais um pouco perderá a
oportunidade de renunciar, caso o processo de cassação seja aberto.
Para que o processo seja aberto será preciso a maioria dos votos dos
membros da comissão, ou seja, três votos. São eles: Presidente: Dr.
Michel – Vice-presidente: Olair Francisco – Membros: Joe Valle, Agaciel
Maia e Patrício. Suplentes: Arlete Sampaio e Wellington Luiz.
Caso o deputado Patrício se dê por impedido, considerando que ofereceu o
parecer na Corregedoria, assumirá a vaga sua suplente Arlete Sampaio.
Quanto aos demais membros, só Olair Francisco e Agaciel Maia ainda não
participaram em nenhum momento do caso Raad. Joe Valle fazia parte da
Mesa Diretora quando foi acatado o recebimento da representação
apresentada pela ONG Adote um Distrital, junto com o Dr. Michel e
deputado Patrício que compunham a mesa em 2012.
Diante de tudo, quem sabe o futuro de Raad seja tranquilo em uma Vila
Boa, sentado em baixo de um frondoso eucalipto, ao lado do laranjal,
pescando tilápias em um lago, sob a proteção das Três-Marias.
Fonte: Edson Sombra / Colaboradores.
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