Aquele homem grosso e inadequado, que tem dor nas costas, nunca senta e
está sempre de pé atrás de uma cadeira dando esporro nos outros?
Pois é, que homem ríspido e grosseiro. Não é um sujeito de bons modos. Não cursou mesmo nenhuma escola de etiqueta.
Longe de ter a fleugma de um lorde inglês ou a finesse de uma dama
vitoriana, o ministro Joaquim Barbosa é um rústico que incomoda quando
condena mensaleiros, maltrata jornalistas e mais ainda quando maltrata
juízes que representam os supremos interesses da importante classe dos
juízes.
Nesta semana ele montou uma armadilha para tornar pública a sua ira
contra a criação de quatro novos tribunais federais que, segundo ele,
custarão aos cofres públicos 8 bilhões de reais, e não trarão ao
contribuinte nenhuma melhora no funcionamento do Judiciário.
Recebeu uma delegação de representantes classistas da Magistratura-
associações de juízes disso e daquilo - e desandou a criticar a maneira
“sorrateira” como eles teriam apoiado a criação dos 4 novos tribunais,
que provavelmente serão instalados “nalgum resort ou praia”.
A palavra “sorrateira” abespinhou um dos magistrados, que tentou
contestá-la e levou um cala-boca imperial do presidente do Supremo. Que
acrescentou, criticando as delegações que o visitavam, que elas (as
entidades) “não representam a Nação, mas apenas interesses
corporativos”.
O ministro de maus bofes seguiu adiante:
“A Constituição não dá poderes à Ajufe (Associação de Juízes Federais).
Isso não faz parte das exigências constitucionais. Não confunda a
legitimidade que o senhor tem como representante sindical com a
legitimidade dos órgãos de Estado. Órgãos importantes do Estado não se
pronunciaram sobre a PEC. Vocês participaram de forma sorrateira na
aprovação dela”.
O fato é o seguinte: a PEC vai praticamente duplicar o número de
tribunais federais existentes (os cinco atuais já empregam 36 mil
funcionários), violar a Lei de Responsabilidade Fiscal e pouco ajudará a
desafogar a Justiça. Só a defenderam as entidades classistas da
Magistratura e a cúpula do Judiciário não foi sequer ouvida a respeito.
Uma legitima farra corporativista. Haveria meios mais eficazes e mais
baratos de melhorar a eficiência da Justiça Federal, como a
digitalização dos processos ou a criação de câmaras regionais previstas
pela Constituição.
Acontece que o juiz “grosso e inadequado”, como o classificaram em nota
de protesto as entidades de classe, preferiu fazer o barulho de quebrar
os cristais e acordou o país para um assunto que permaneceria ignorado.
Mal educado mas eficiente.
Por Sandro Vaia é jornalista. Foi
repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da
revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de
Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”,
(editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. E.mail:
svaia@uol.com.br
Fonte: Blog do Noblat
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