Senador é suspeito de usar notas frias para comprovar que ele, e não o lobista de empreiteira, pagou suas despesas particulares
Em 2007, Renan foi acusado por Mônica Veloso, sua ex-amante, de usar
dinheiro do lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior, para
pagar suas despesas com a pensão do filho e do aluguel da jornalista.
Para comprovar que tinha condições de arcar com os gastos sozinho, o
senador apresentou notas fiscais de vendas de bois. Mas a Polícia
Federal apontou que aqueles documentos não garantiam recursos para
quitar a pensão. Também afirmou que os papéis não comprovavam a venda de
gado. Havia a suspeita que as notas eram frias. O caso levou o senador a
deixar a presidência do Senado, cargo que agora volta a postular.
Por meio de assessoria, Gurgel disse ao Congresso em Foco neste sábado
(26) que não informaria por qual crime denunciou Renan Calheiros. “Não
vou dar detalhes porque o inquérito corre sob segredo de Justiça”,
afirmou ele, na tarde de hoje. O inquérito foi aberto na Procuradoria
Geral da República a pedido do próprio Renan, que queria ser investigado
na expectativa de comprovar não ter cometido nenhuma irregularidade.
Com a denúncia em mãos, Ricardo Lewandowski deverá fazer um relatório e
um voto para levar o caso ao plenário. Quando isso acontecer, os 11
ministros do Supremo decidirão se recebem a denúncia ou se rejeitam o
pedido de Gurgel. Caso aceitem a denúncia, Renan se tornará réu em uma
ação criminal.
Tráfico de influência
Essa não é a única acusação contra o favorito para suceder José Sarney
(PMDB-AP) na presidência do Senado. Renan é alvo do inquérito 2998 por
tráfico de influência e improbidade administrativa, que corre em segredo
de Justiça no STF.
Estrada que liga fazenda de Renan a rodovia foi pavimentada em uma reserva ambiental
Também responde ao inquérito 3589 por crime ambiental. Para o
Ministério Público, o senador pavimentou ilegalmente, com
paralelepípedos, uma estrada de 700 metros na estação ecológica Murici,
administrada pelo Instituto Chico Mendes, em Flexeiras, a 66 km de
Maceió (AL). O instituto, porém, não foi consultado e não concedeu
qualquer licença ou autorização para a obra. A unidade, de 6 mil
hectares, conserva áreas de Mata Atlântica. A estrada liga a fazenda
Agropecuária Alagoas Ltda, de propriedade do grupo de Renan, à principal
rodovia que corta o estado, a BR-101.
Crise e quase cassação
O caso das despesas de Mônica Veloso causou uma crise no Senado em
2007. A empreiteira Mendes Júnior – supostamente a fonte de recursos de
Renan para pagar a pensão da jornalista – executou uma obra no Nordeste
que recebeu uma emenda do senador na Lei de Diretrizes Orçamentárias.
As denúncias multiplicaram-se no Conselho de Ética, chegando até mesmo a
uso de laranjas para esconder a propriedade de veículos de comunicação
em Alagoas, o que é proibido aos parlamentares segundo a Constituição.
Das seis denúncias no Conselho, duas foram ao plenário. Mas Renan
escapou duas vezes da cassação do mandato. Entretanto, teve que
renunciar ao cargo de presidente para garantir a sobrevida política.
Renan “mergulhou” no ano seguinte, ou seja, adotou uma postura mais
discreta e atuou preferencialmente em negociações reservadas. Mas já em
2009 tornou-se líder do PMDB, cargo importante para quem desejava voltar
a ter a relevância de outrora na política. Desde o ano passado, Renan
costura seu retorno à presidência da Casa, o que parece estar cada vez
mais perto. Por enquanto, seus adversários são Randolfe Rodrigues
(PSOL/AP) e Pedro Taques (PDT/MT).
A reportagem não conseguiu localizar Renan e sua assessoria neste sábado.
Fonte: Congresso em Foco - Por Edson Sardinha
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