Conversas gravadas em maio de 2011 mostram Cachoeira se
lamentando para a mulher Andressa Alves Mendonça, após a publicação de
matéria no Fantástico sobre máquinas caça-níqueis, que resultou no
fechamento de diversas casas no entorno do Distrito Federal
Leia na matéria de Pedro Palazzo, do Popular:
A terceira semana de maio de 2011 foi difícil para o empresário
Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. No domingo, 15, o
programa Fantástico, da Rede Globo, mostrou reportagem sobre máquinas
caça-níqueis. Expôs locais no Entorno do Distrito Federal ligados a ele.
A polícia fechou os bingos. No dia seguinte, homens do Grupo Tático 3,
unidade especial da Polícia Civil, fecharam as melhores casas da
capital. Na terça-feira, em conversa com sua mulher, Andressa Alves
Mendonça, Cachoeira desabafou: “Sabe como que eu tô me sentindo?Tô
aguentando pra não chorar. Sabe o que eu tô sentindo? Tô me sentindo um
bandido. A forma que, que... a sociedade me vê, eu tô me sentindo,
entendeu? Coisa que eu nunca tive, né, é preconceito de mim mesmo. Hoje
eu tô com preconceito de mim mesmo.”
As palavras só saíram na terceira conversa com Andressa em menos de
20 minutos. Nos diálogos, cujos trechos transcritos foram selecionados
pela Polícia Federal (PF), o contraventor diz à companheira que está
nervoso e inseguro com a situação. Ouve dela: “Você tá inseguro em que
sentido? Insegurança é coisa de mulher, pra começar. Em que sentido que
você tá inseguro?”, questiona Andressa. “Inseguro no tanto de ataque que
nós vamos ter”, responde.
Cachoeira relata os problemas que enfrentava. O contraventor diz
estar sofrendo retaliação de Marquinho (não identificado nos documentos
aos quais O POPULAR teve acesso).
Para ele, o desafeto teria ascendência
sobre Edemundo Dias, que assumiu a diretoria-geral da Polícia Civil, no
lugar de Aredes Correia Pires, integrante do esquema de Cachoeira, de
acordo com a apuração da PF. Marquinho, pelo que evidencia a conversa, é
alguém próximo ao casal. A companheira se recusa a acreditar na
intervenção e o contraventor sugere que ela ligue para ele. “Eu tenho
certeza que temo dedo do Marquinho no meio desse trem”, reitera.
O suposto contraventor percebeu o que interpretou como uma ação
deliberada contra ele quando estava em São Paulo, acompanhado de
Andressa. Ele revela à mulher o teor de uma ligação que recebeu, durante
a viagem, e acrescenta com mais uma informação sobre fechamento das
casas de jogos de azar mais lucrativas de Goiânia: “Foram em dois
locais, os melhores aqui em Goiânia.
Ontem foram em mais em dois. Quer
dizer, acabou. Vi que era perseguição mesmo, entendeu?”
Em outro trecho, Cachoeira diz que estava tentando derrubar Edemundo,
hoje presidente da Agência Goiana do Sistema de Execução Penal
(Agsesp). Ele teria caído devido à falta de sintonia com o secretário de
Segurança Pública e Justiça, João Furtado Neto, e ao aumento nos
índices de violência no Estado. A troca aconteceu no fim de novembro do
ano passado. No lugar dele, assumiu a delegada Adriana Accorsi.
A matéria do Fantástico e a ação policial em Goiânia, supostamente
motivada por desavenças com Marquinho, deixaram Cachoeira sem fluxo de
caixa. “Vou ter que ficar uns dez dias parados. De lá pra cá a vida
degringolou.” O tom do contraventor difere do relatado por amigos: de
animado, festeiro e brincalhão, estava pessimista, triste: “Tô perdendo
tudo.”
As ações policiais contra a quadrilha no Entorno do Distrito Federal e
na capital deixaram Cachoeira preocupado com as casas de jogos em
Anápolis. “O que tá funcionando é Anápolis, precariamente. Porque 23 do
mês que vem vai ter (operação para fechar), entendeu?”, diz o
contraventor à companheira. Antes de conversar com Andressa, Cachoeira
havia sondado um informante da quadrilha, o delegado federal Fernando
Byron, sobre operações da polícia na cidade onde construiu sua vida.
Fonte: Brasília 247 - 23 de Abril de 2012 às 12:58
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